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As deusas e a mulher moderna: influência dos arquétipos na vida da mulher e como nós mulheres podemos utilizar essa energia psíquica a nosso favor.

Foto do escritor: Marco Antonio RamosMarco Antonio Ramos

POR PAULA MERCADO DEL GIUDICE- PSICOLOGA JUNGUIANA ESPECIALISTA CRP: 06/137155


O feminino e seus arquétipos sempre foram uma constante no mundo: quando o mundo era predominantemente matriarcal, podíamos ver imagens arqueológicas e mitológicas de deusas majoritariamente “mãe”, ou seja, aquelas deusas que davam, geravam a vida sendo cultuadas; com o advento do patriarcado, especialmente as deusas passaram para um segundo plano tanto no protagonismo muitas vezes de suas histórias quanto na psique do ser humano e o que antes possuía uma grande definição dos papéis ditos femininos e masculinos na modernidade encontrou grandes desafios através da reestruturação de papéis de gênero.


Carl Gustav Jung (1875-1961), psiquiatra suíço e criador da Psicologia Analítica (ou “junguiana” como muitos conhecem) descobriu a importância da mitologia na vida e na psique do ser humano; foi ele também que descobriu que todo ser humano possui duas camadas inconscientes dentro de si; a primeira camada diz respeito ao nosso inconsciente pessoal, onde há igualmente conteúdos reprimidos, sendo então o repositório de recordações e experiências esquecidas. Através de inúmeros conhecimentos que possuía em antropologia, sistemas religiosos, arte, mitologia e de sua experiência empírica junto aos relatos, delírios e sonhos de seus pacientes no hospital psiquiátrico de Burghölzli, viu que símbolos e figuras apareciam frequentemente para indivíduos que nunca sequer tiveram conhecimentos e nem acesso a esses materiais de estudo que ele tivera; muitos destes conteúdos eram idênticos ou muito similares aos que ele havia estudado.


A segunda camada então surgiu e a partir disso foi nomeada por Jung de inconsciente coletivo; essa camada detém padrões da percepção psíquica comuns a toda a humanidade, ou seja, experiência de padrões de percepção e compreensão psíquica nas quais todos os seres humanos possuem, como pertencentes a raça humana, estando conectada através de um grande coletivo: os arquétipos. O arquétipo em si não é uma ideia herdada e nem uma imagem comum, mas sim um molde psíquico da experiência, e por este motivo jamais pode ser acessado em sua essência, todavia sim, através de imagens, símbolos e igualmente por experiências individuais e coletivas sobre aquele determinado arquétipo. Temos por exemplo o arquétipo de mãe, pai, do herói, da criança, e todos eles trarão vivências diferentes de acordo com a individualidade da pessoa e suas construções, com o local onde ela nasceu, vive, país, cultura, zeitgeist (espírito do momento, ou época histórica), e até no âmbito coletivo, pois como já dito todos estamos inseridos em uma comunidade e conectados por essa grande “teia de aranha invisível” que é o inconsciente coletivo.


Uma vez que o arquétipo se manifesta através de símbolos, podemos identifica-lo então no dia-a-dia através dos nossos sonhos, por exemplo, mitologia, contos de fada, através das artes, e até do nosso entendimento sobre determinada situação; símbolo designa tudo aquilo que é criado espontaneamente por nossa psique, ou seja, de modo inconsciente e conecta tudo o que conhecemos sobre nós mesmos, e da mesma forma o que desconhecemos, por este motivo ele nos trás um estado de experimentação transcendente ligando dentro de nós o que é numinoso, e até de certo modo o que é misterioso nos elevando a essa vivência divina e metafisica.


Nos voltando para as deusas e seus arquétipos de feminino, é exatamente desta forma que iremos sentir suas manifestações dentro de nós, como uma força que vem das profundezas de nossa alma e nossa psique e nos impulsiona, tanto para o mundo externo, realizando nossos propósitos de vida, nossas batalhas e desafios diários, quanto especialmente no nosso mundo interno proporcionando maior conhecimento sobre nós mesmas. A grande proposta de Jean Shinoda Bolen, médica e analista Junguiana, é que a mulher possa utilizar essa força e influência das deusas em sua vida de acordo com cada etapa e fase em que se encontra: desta forma as vezes se fará necessário “ativar” determinada deusa e “desativar” outra. O ativar e desativar aqui utilizado de forma didática, pois como forças, elas existem dentro de nós e estão aí para serem acessadas no nosso mundo interno. Outra proposta é o resgate destas diversas forças de feminino em nossa psique carente de modelos no mundo atual e concreto no qual a mulher moderna está inserida. 


Muitas dificuldades que nós mulheres enfrentamos atualmente são provenientes ao fato de sairmos de uma configuração arquetípica onde se cuidava da casa, dos filhos, do marido e adentramos em um campo de ação no mundo, antes reservado aos homens ao passo em que não há modelos mitológicos femininos. Consequentemente a mulher se vê em um relacionamento competitivo com o homem, encouraçada (vestindo uma armadura) e como resultado disso tudo, esgotada com todas as suas jornadas de obrigações diárias e exigências do mundo patriarcal, resultando igualmente na perda do senso de sua própria natureza.


Adentramos o campo e a floresta da busca individual, de nossas conquistas e realização pessoal, onde carecíamos até então dos modelos de feminino; no mundo moderno através de carreiras variadas, foi-se emergindo personalidades diferenciadas também baseadas no papel social da mulher, ao qual a constituição de nossa psique ainda se encontra atada, mesmo depois de tanto tempo. Mulher, não é problema algum você gostar de cuidar da sua casa, ter o sonho de ter seus filhos, sua família e querer se dedicar a isso enquanto teu parceirx trabalhar e sustentar o lar, e tampouco é errado você querer ir para o mundo profissional e aspirar tornar-se a CEO daquela empresa, assim como não é errado você sentir não se encaixar em nenhuma dessas configurações e possibilidades; saiba que essas formas modernas evocam determinados tipos de feminino ao passo de existir um universo muito mais abrangente.


Se as deusas são forças que auxiliam nas diversas fases de nossas vidas, logo, são ativadas e desativadas conforme nossa necessidade. O conhecimento do padrão de cada Deusa nos possibilita o autoconhecimento psíquico e a conscientização do potencial interno que levam ao desenvolvimento pleno dos potenciais internos de cada uma de nós. A depender de quais delas estiverem ativadas em nós, o que é realização para um tipo de mulher pode não ser para um outro tipo; e ainda, o que faz sentido para uma parte da mulher pode não fazer sentido para uma outra parte dela mesma, e isso se deve a presença simultânea de forças arquetípicas contraditórias e pode resultar em crise, pois vão envolver fatores que são realizadores ou frustrantes. Igualmente nossas escolhas são feitas a partir das forças arquetípicas ativadas no nosso inconsciente, como casar-se ou não, ter filhos ou não, investir em sua carreira ou não, entre outros. Quando as imagens se adaptam aos sentimentos da mulher é que as deusas se tornam úteis, porque o propósito delas é o de possibilitar entendimentos acerca de sentimentos, formas de pensar e ver tanto o mundo quanto a nós mesmas, compreender os momentos de nossas vidas, nossas escolhas, ações e prioridades.


Essas manifestações de feminino existem além de questões de gênero, orientação sexual, e se você que estiver lendo isso for homem, pessoa transgênero, pessoa não binária, e até fizer parte do público LGBTQIA+, isso não será diferente, como já dito, o arquétipo está aí, e nós só precisamos acessá-lo através dos símbolos. Os homens também terão acesso a esses arquétipos através de sua anima (a totalidade das qualidades psicológicas femininas inconscientes que um homem possui), e nós mulheres igualmente possuímos a regência aos arquétipos dos deuses gregos (Zeus, Poseidon, Hades, Apolo, Hermes, Ares, Hefesto e Dioniso) através de nosso animus (elemento masculino dentro de nós). Embora essa configuração de anima e animus pareça muito binária, Jung veio de uma época em que essas questões como identidade de gênero não eram pautas discutidas (infelizmente), mas hoje a proposta em especial dos pós-junguianos é trazer de modo atualizado e não tão “dividido didaticamente”, o que ele já falava lá atrás: o ser humano tem essas dualidades, esses dois aspectos dentro de si, só é necessário que saibamos unir isso dentro de nós como um “casamento divino” gerando resultados fantásticos na nossa psique; e como já diria Ney Matogrosso “sou feminino e masculino”, e acredito que isso só enriquece nossa vivencia quanto seres humanos.


Aqui estou falando do perfil de 7 deusas gregas, embasada no livro de Bolen. Segundo Bolen a probabilidade de haver uma deusa “mais dominante” (no sentido de maior ênfase e influência) em nossa psique é alta, mas não é uma determinação, eu por exemplo todas as vezes que revisitei minha vida e refiz o questionário, minha Perséfone sempre foi mais evidente, porém outras deusas se ativaram mais de acordo com meu momento de vida. Segundo a autora essas influências não deixarão de repercutir na terceira fase da vida da mulher que geralmente inicia-se quando entramos na menopausa, trazendo mudanças psíquicas, em que estes arquétipos perante a fase vivida mudam ou até perdem a importância, dando espaço para que outras ganhem mais força. Estes manifestados mais tardiamente podem permanecer inativos durante a maior parte da vida da nossa vida e emergir na terceira fase, junto a outros aspectos desta nova versão nossa que dão lugar inclusive a novas prioridades, acompanhados também de mudanças psíquicas. Ainda assim, as deusas presentes na primeira e segunda fase da vida podem costumeiramente continuar presentes na terceira, porém para cada momento há padrões arquetípicos específicos.


São estas deusas: Atená, Artêmis, Héstia, Hera, Deméter e Coré-Perséfone, Afrodite. Todas elas enquanto arquétipos possuem seu lado “luz” e seu lado “sombra”; mas não luz e sombra no sentido de “bom ou ruim", mas sim, o de aspectos que são mais conhecidos e conscientes para nós (luz) e aspectos que não conhecemos e consequentemente são inconscientes (sombra), e o objetivo é o de também os conhecer com a finalidade de reintegrá-los em nossa psique nos trazendo mais força e conscientização de atuação conosco e com o mundo. Estas deusas didaticamente são divididas pela autora em dois grupos, e irei apresentá-las igualmente desta forma visando facilitar o conhecimento: Deusas virgens- Atená, Artêmis, Héstia e Deusas vulneráveis- Hera, Deméter, Coré-Perséfone, (vulneráveis não no sentido ruim da palavra, mas sim de uma necessidade psicológica inconsciente de um elemento masculino na psique da mulher para poderem manifestar suas forças enquanto arquétipos); É exceção a estes dois grupos a deusa Afrodite que é considerada uma deusa alquímica, na qual será abordada quando chegar a vez dela. Explanarei também seus mitos, e como essas nuances do feminino podem nos levar a um autoconhecimento maior e em nossa busca pessoal tanto interna quanto externa.


 

Deusas Virgens

 

Bolen (1984) classifica como Deusas virgens Atenas, Ártemis e Héstia, por não precisarem do aspecto masculino na psique para exercerem a sua força como arquétipos e por terem as qualidades de autossuficiência, independência e orientação para a realização de suas metas. Essa virgindade não se dá no âmbito biológico, mas sim no psicológico. Os aspectos psicológicos virginais são aqueles encontrados na psique da mulher em sua forma natural, intocável pelo patriarcado e pela cultura machista. São tipos de deusas as quais não sentem necessidade de aprovação de outros, e onde suas motivações para alcançar metas estabelecidas no mundo externo independe do juízo de outros. Possuem a capacidade de focar sua atenção em algo que considerem significativo, tendo assim mente direcionada, e com aspectos voltados para a racionalidade e o pensamento lógico, não se deixam dominar pelas emoções. Porém para a mulher que possuí aspectos psicologicamente virginais, o desafio consiste em ser coerente consigo mesma em se adequar ao mundo patriarcal, assim como trabalhar sua couraça (armadura psicológica) em relação às demais pessoas e relações construídas, além de sua capacidade de intimidade pessoal visando maior vínculo e menor distanciamento emocional com os outros.

 

Atená


O Mito:


Filha de Zeus, rei dos Deuses olímpicos, e de Métis, Deusa da sabedoria, a qual fora engolida por Zeus, pois, segundo uma profecia ela teria um filho que o destronaria, tal qual ele fizera com Cronos, seu pai. Ao engolir Métis, Zeus, além de manter a gestação, também tomou para si seus atributos.  Após este período Zeus começa a sentir muitas dores de cabeça e pede a Hefesto o deus ferreiro que abra sua cabeça; Atená nasce da cabeça de seu pai como mulher adulta completamente desenvolvida, vestida e armada para a guerra com seu elmo, sua espada e seu escudo. Filha de “um só genitor” e não tendo consciência de sua mãe, tornou-se a filha preferida do pai, a quem ele confiou os símbolos de seu poder: seu raio e a Égide. Atená configura-se como defensora dos princípios do patriarcado, colocando-os acima dos valores matriarcais.


Em sua mitologia Atená era protetora dos heróis e a deusa mais próxima a eles: Perseu foi um dos heróis que ela ajudara a matar a górgona Medusa ao sugerir que ele utilizasse espelhos para ver seu reflexo sem encará-la diretamente, podendo decapitá-la; também cuidou de Aquiles e ajudou Odisseu, heróis gregos centrais da Ilíada e da Odisseia. Tornou-se também aliada dos gregos contra os troianos na guerra de Tróia.

 

A Mulher Tipo Atená


A criança do tipo Atená é curiosa, tem tendência intelectual e pode ser facilmente encontrada lendo ou perguntando sobre coisas e fatos à seu pai, pois busca entender o funcionamento das coisas. É ideal principalmente para que seu tipo tome força e seja valorizado por si desde pequena que ela tenha um pai bem-sucedido que tenha orgulho dela ser tal qual ele é, assim terá confiança em suas habilidades e, quando adulta, poderá exercer plenamente seu poder. A mãe de uma filha do tipo Atená pode se sentir desprezada devido à divergência de interesses das duas e à apreciação da filha pelo pai.


Quando jovem possuí pensamento linear e claro, classifica as coisas ao seu redor e tem tendência à praticidade e a desenvolver suas habilidades. Comumente, não sentem as mudanças hormonais características da puberdade, não mudando seu comportamento e nem apresentando crises típicas dessa idade. Planeja seu futuro e coloca como prioridade os estudos e até uma possível carreira acadêmica futura, após terminado o ensino básico. Não costuma estabelecer vínculo de amizade íntima com outras mulheres por não sentir necessidade e/ou empatia para com elas e, quando estabelece algum elo, este pode ser facilmente quebrado por sua necessidade de vencer.


No trabalho se adapta à realidade e tem como objetivo fazer algo por si mesma; compete ombro a ombro com os homens no mercado de trabalho e enxerga essa competição mesmo que desigual e até muitas vezes desonesta (no mundo atual em que vivemos), como saudável e combustível para trilhar sua passagem no sucesso profissional. É muito comum encontrarmos mulheres Atenás com grandes cargos em empresas, e até como CEO destas. É um tipo de mulher que valoriza a logica, o logos, sendo prática assim como sua espada que corta; simbolicamente a mulher Atená poderá cortar pessoas, situações e até compromissos nos quais não vê objetividade para si, por exemplo, em alguma reunião de trabalho, pode chegar a cortar algum assunto e/ou algum colega justamente por essa falta de objetividade do outro para aquele momento, podendo gerar situações de constrangimento para os outros, mas ela provavelmente não irá nem perceber o constrangimento porque esse é seu jeito de agir e interpretar o mundo à sua volta.


Quando se casa e acaba tendo filhos, dirige a família, devido ao seu tino comercial, assume o papel de administradora do lar; em sua casa tudo está organizado eficientemente e funciona. Tem tendência a seguir carreiras tradicionalmente masculinas. Defensora do patriarcado e status quo, sente-se atraída pelo herói, o homem provido de muitos recursos e, busca realizar o que ela quer, tanto no relacionamento afetivo – parceiro afetivo - quanto nos negócios - chefe. Para ela, o romantismo está no poder.


Seu corpo é apenas uma parte útil, não o revestindo de sensualidade; o sexo é uma função corporal na qual habilidosamente aprende e que faz parte de um acordo com o parceiro, assim como também faz parte desse acordo a criação dos herdeiros/filhos. No casamento, mantém interesse pela carreira do marido e o ajuda a progredir; caso ele tenha estabilidade financeira, ela o ajuda como aliada social. Acha fácil dirigir as tarefas domésticas. Não sente ciúme sexual de seu parceiro, podendo até cegar-se frente a uma traição, pois trata seu relacionamento de forma racional e lógica, como um acordo vantajoso para ambas as partes. Para a mulher do tipo Atená, seus filhos têm que ser futuros heróis, tendo extroversão, independência, competitividade, curiosidade intelectual e pensamento lógico. Não se sente pessoalmente realizada ao ter filhos propensos aos sentimentos e emoções ao invés da racionalidade, podendo se distanciar emocionalmente deles fazendo com que cresçam sentindo-se desvalorizados por serem sensíveis.


Não suscetível a ilusões, sua vida se desenvolve ordenadamente. Quando na meia idade pode vir a reconsiderar sua trajetória e planejar a fase seguinte de sua vida, ou pode vivenciar uma crise no casamento se o seu marido estiver desejando viver uma paixão e, frente à isso, ela pode continuar afirmando sua natureza Atená ou ativar outras deusas mais facilmente ativadas na meia idade. Na velhice mantém bom relacionamento com a família mesmo sem expressar demasiado afeto, o que nunca foi seu feitio. Se tiver tido filhos, pode vir a ressentir-se com eles, pois por ter em grande parte de sua vida mantido um distanciamento emocional destes, pode ser que estes já crescidos não façam tanta questão de um vínculo afetivo próximo com ela. Na realidade, o envelhecer não afeta a maioria das mulheres do tipo Atená, pois o corpo nunca foi fonte de bem-estar e autoestima para elas, pelo contrário, podem se sentir melhores consigo mesmas pela posição poderosa que conquistaram, e costumam ser autossuficientes e ativas. A única ressalva em relação ao corpo que pode tomar importância para a mulher Atená e quando este corpo no envelhecimento adoece e a limita, consequentemente limitando sua independência no ir e vir, assim como sua autossuficiência.  


Mantém as tradições familiares e encontra-se preparada para a viuvez caso isso aconteça, já que sabe que o homem vive menos que a mulher. É um tipo de manifestação que na terceira fase da vida da mulher pode fazer com que ela passe por algumas mudanças de perspectiva, podendo ser por causa de uma perda importante que ultrapasse sua armadura (couraça) intelectual; pode ser, por exemplo, a morte do pai. Pode começar a ter sentimentos de vulnerabilidade e solidão e este período pode levar esta mulher à introspecção e um desabrochar de sentimentos transformadores, que podem levá-la a ter compaixão ou remorso por suas estratégias de guerra. Depois de dolorosos confrontos internos e externos, esta nova perspectiva pode mostrar a ela que, ao contrário dos homens que não sacrificam nada em nome da carreira, ela teve que escolher. É importante que estas reflexões a levem-na ir ao encontro do feminino. Se esta Deusa ganha força apenas na terceira fase da vida, a mulher pode achar um grande tesouro no interesse intelectual, podendo desfrutar do saber, buscar cursos do seu interesse, descobrir que tem vocação para os negócios ou ainda para arte.


É relevante ressaltar que é um desafio para a mulher tipo Atená ter compaixão, por não ser de sua natureza ser empática. Por isso é importante a mulher tomar cuidado com sua couraça psicológica, pois muitas vezes por ter a tendencia a ser prática, acaba passando a impressão de alguém impessoal, fria, podendo vir a afastar as pessoas de si. A espada, o elmo e o escudo, alguns de seus símbolos representantes, aparecem como características para a mulher olhar para dentro de si e trabalhar essa sombra da deusa consigo, pois, como a mulher Atená é muito mental (como uma grande cabeça ambulante que circula por aí enquanto o corpo somente a acompanha por “estar grudado a esta”), ela sob grande pressão no trabalho (através de um burnout por exemplo) ou até na vida pessoal pode vir a “perder a cabeça”, assim como Medusa teve a sua cabeça cortada através de Perseu, herói auxiliado por Atená.


Medusa era uma górgona que fora estuprada no templo de Atená e a deusa transformou o cabelo de Medusa em serpentes e a exilou. As cobras em sua cabeça petrificavam qualquer homem que ousasse olhar diretamente para ela, até o momento em que ela tem sua cabeça cortada. Podemos pensar simbolicamente que esse perder a cabeça da mulher tipo Atená, se equipara ao perder a cabeça da górgona punida por ela, especialmente se levarmos em consideração que no escudo de Atená se encontra estampado a cabeça de Medusa, logo podemos refletir o quanto talvez a imagem de Medusa seja um lado sombra desta deusa, justamente esse lado inconsciente da mulher em relação a este arquétipo mais vigente, no qual pode vir a sabota-la levando-a a perder discernimento em momentos não muito propícios, e até ficando doente no meio do seu processo de conquista, ou quando chega a atingir seu objetivo, não sendo possível assim de ela conseguir aproveitar os louros da glória.


Por estes motivos é imprescindível que a mulher tome cuidado para não engatar o automático em sua vida, justamente porque poderá não ser capaz em muitos momentos discernir, em especial no âmbito corporal, quando é necessário desacelerar, e quando não chegando a perder muitas coisas que a vida e suas fases podem proporcionar também de legal. Já viu aquela mulher que lá na frente em sua vida relata sentir ter perdido muitas coisas na vida porque teve que focar e fazer tais coisas? Isso pode acontecer com a mulher Atená; não é problema você ter um objetivo no qual sabe que será necessário focar por bastante tempo e desprender energia abdicando de coisas pelo caminho, mas tão importante igualmente é saber descansar neste processo para poder continuar tendo impulso e combustível para chegar lá, porque não somo máquinas, mas sim humanas.  Talvez seria interessante a mulher Atená buscar desenvolver um pouco mais a deusa Deméter, justamente por esse cuidar materno da deusa trazendo este aspecto para dentro de si.

 

ÁRTEMIS

 

O Mito:

 

A relação extraconjugal entre Zeus (então casado com Hera) e Leto, uma divindade da natureza, teve como fruto um casal: Ártemis, Deusa da caça e da lua e gêmea primogênita de Apolo, Deus do sol. Chegado o momento do parto, Leto foi mal acolhida em todos os lugares em que buscou ajuda, pois todos temiam a ira de Hera quando, enfim, encontrou abrigo na ilha de Delos. Sofrendo dores terríveis devido às façanhas vingativas de Hera, Leto deu luz à Ártemis  e teve sua ajuda para suportá-las, pois assim que nasceu, a deusa da caça e da lua foi parteira de sua mãe por nove dias e nove noites. Aos três anos de idade quando levada ao Olimpo para conhecer seu pai, Zeus lhe concedeu tudo que ela desejara: arco e flechas, cães de caça, ninfas para lhe fazer companhia, uma túnica mais curta que lhe permitisse correr, selvas para desbravá-las e eterna castidade. Além disso, lhe foi concedido o poder de tomar suas próprias decisões.


Ártemis punia rapidamente quem a ofendia. Como exemplo Actéon, que acidentalmente viu a deusa e suas ninfas se banhando. Ela jogou água na face dele transformando-o em um veado que foi perseguido e destroçado pelos cães de caça da deusa e por ter uma natureza extremamente competitiva, acidentalmente chegou a matar o único homem por quem se apaixonara, pois ela fora desafiada por Apolo e não resistiu à sua própria natureza competitiva. No mito, por muitas vezes Ártemis auxiliava sua mãe, por exemplo, quando a salvou do gigante Títio que tentara violá-la, e também quando Níobe gabou-se para Leto por ter muitos filhos e então, Ártemis e Apolo mataram a todos e a transformaram em uma coluna de pedra chorosa.

 

A Mulher tipo Ártemis

 

A criança tipo Ártemis é mais ativa que passiva e chama atenção pela sua facilidade de concentrar-se em alguma tarefa que tenha selecionado. A criança deste tipo pode ser rapidamente identificada ao vermos o interesse pela natureza, pelos insetos, pela vida; é uma criança que desde sempre já se inclina para brincar no mato, na casa da árvore, sujar-se de lama etc.  Necessita de pais apoiadores e que lhe deem os recursos que a ajudarão a realizar seus objetivos; quando cada um deles possuí sua carreira e dividem igualmente as tarefas domésticas e educação da criança, então a filha tipo Ártemis tem  modelo para o desenvolvimento de suas qualidades. Quando submetida à desaprovação dos pais, sua autoestima pode ser ferida resultando, na maioria das vezes, em uma mulher com conflitos no que concerne à sua capacidade.


A adolescente tipo Ártemis possuí traços de independência, competitividade e propensão à exploração, se aventurando na natureza e podendo ter como hobbie o escotismo, por exemplo, e o desenvolvimento pelo interesse em práticas esportivas pode apresentar-se desde cedo. A segurança que ela têm pode parecer aos outros como teimosia. Provavelmente pode ser aquela pessoa que mataria aula ou compromissos para poder ficar em contato com a natureza, ou para simplesmente praticar esportes.


Quando adulta, seu interesse no trabalho é estritamente pessoal, aquilo que realiza precisa ter valor subjetivo para ela e seu estímulo está na competição, na busca pelo seu objetivo, porém de modo mais fraterno; não encontra nesta competição uma forma de superar necessariamente ao outro e até passar por cima deste, como Atená, mas sim superar-se perante ao desafio que o outro e a situação apresentam, por isso gosta de ser desafiada e frase como: “duvido que você consiga tal coisa” são seu combustível para cumpri-lo; sente necessidade maior de perseguir seus próprios interesses que muitas vezes não possuem um valor comercial e nem conduzem ao estabelecimento de uma carreira; Ao contrário, o interesse as vezes é tão pessoal ou fora do comum, tão absorvente quanto ao tempo, que a falta de sucesso no mundo ou a falta de relacionamentos são garantidos. Essa busca, contudo, é realizadora para ela. Não se importa em debruçar-se e perseguir objetivos no seu trabalho desde que este tenha um profundo significado para si. A mulher deste arquétipo sente profunda e verdadeira amizade com as outras mulheres, expressando a qualidade da Deusa Ártemis, de ser irmã, em um relacionamento fraternal.


A experiência sexual que a mulher adulta adquiriu provavelmente é um elemento de sua tendência à exploração, pois ela enxerga o sexo como uma atividade recreativa. Um “lar base” não é uma prioridade para ela, assim como o casamento também; quando se casa, seu esposo é para ela um companheiro e seu casamento é igualitário. Vai ter a tendencia a buscar a divisão de tarefas dentro do lar, assim como enxergar na relação uma igualdade de gênero. Sem a presença de outros arquétipos como o das Deusas Hera e Afrodite, o relacionamento com homens pode ser de irmãos, consistindo em uma relação assexuada e competitiva. Já no relacionamento LGBTQIA+ a tendencia é ainda uma visão mais fraterna, mas também pode depender das manifestações de deusas da parceira que também terão influência no modo de esta mulher Ártemis se relacionar. Sente-se à vontade não gerando filhos, pois não é um foco para a mulher deste tipo, a não ser que possua influência das deusas Deméter, Hera, também ativas em sua psique, mas quando os têm, em sua relação com eles os ensina a serem independentes e torna-se companheira deles nas explorações.


Em sua meia-idade, pode sentir-se em crise pois agora há menos selvas para explorar, ou já alcançou suas metas ou ainda fracassou. Pode também interiorizar-se passando por profundas reflexões, estando, neste período, orientada pela característica do arquétipo da Deusa da Lua, ao invés da Deusa da Caça, ambas faces de Ártemis. Segundo Bolen (2005), as qualidades de Ártemis persistem na terceira fase da mulher, que sente necessidade de movimentar-se, corpo e mente. Assim com Atená costuma ser autossuficiente na velhice, mas pode sofrer muito quando o corpo carece de saúde, trazendo limitações. Caso tenha boa saúde, os anos de maturidade podem ser os melhores da sua vida. Ártemis anciã costuma se sentir jovem, tem como particularidades a afinidade com os jovens e capacidade de renovar sua forma de pensar e disposição de reflexão; se tiver paixão pelo trabalho, provavelmente não se aposentará. Se tiver tido filhos, ela pode não ser muito agarrada a eles, mas manterá um bom relacionamento. É importante frisar que Ártemis se preocupa em não depender de ninguém, principalmente dos filhos; faz o possível para não se tornar um fardo. É um tipo que pode também que quando aparece apenas na terceira fase da vida, vem junto uma reinvindicação de liberdade de espírito na vida da mulher.


É importante que a mulher Ártemis busque trabalhar em si sua dificuldade em encaixar-se em algumas configurações como o ambiente de trabalho em grandes empresas desenvolvido pelo mundo patriarcal e suas regras, pois por sua tendencia à liberdade pode sentir-se enjaulada, e pode acabar isolando-se por conta disso, resultando em uma sensação de não pertencimento à aquele ambiente; Se especialmente a mulher Ártemis tiver grande influencia de Atená em sua psique, tem que tomar especial cuidado em buscar um equilíbrio de expectativa e objetivos de vida, e sacrifícios em muitos momentos terão que ser feitos diante destes conflitos, pois pode vir a aspirar uma carreira sólida como Atená, levando-a a mergulhar neste mundo patriarcal de grandes corporações especialmente localizadas em grandes cidades de concreto, e ao mesmo tempo uma carreira que faça sentido para si, com seu ritmo, especialmente que a deixe mais próxima à natureza, elemento esse escasso nas grandes cidades, sendo mais necessário buscar outros locais para morar.


É neste momento que o conflito pode se instaurar, pois como forças na psique da mulher essas duas deusas costumam destinar-se a objetivos diferentes. Se a mulher Ártemis for capaz de conseguir equilibrar isso e até estar disposta a fazer sacrifícios para resolucionar este conflito, pode até ser que ela se veja futuramente realizando uma transição de carreira, por exemplo. A distância emocional é grande característica da mulher Ártemis, que está tão concentrada em seus próprios objetivos e tão atenta que falha em notar os sentimentos dos que estão ao seu redor. Os danos deste distanciamento atingem a todos que se interessam por ela, pois passam a sentir-se insignificantes e excluídos além de criarem mágoas com ela. Ela precisa trabalhar para sair desta introspecção tomando consciência para uma possível mudança torando-se capaz de ouvir e considerar o que o outro diz.


Outro aspecto a ser trabalhado pela mulher tipo Ártemis é seu desprezo pela vulnerabilidade, pois como a deusa é de um perfil caçador, sua tendencia será visualizar o/a possível parceiro(a) como algo a ser conquistado, logo “caçar” e conquistar são elementos praxe para ela durante a sedução; se esta pessoa chega a arrebata-la emocionalmente ou quiser tornar-se dependente dela, e até se ela chegar a se casar, muito provavelmente se não houver influencia de outras deusas, o arrebatamento da “caça” estará terminado, resultando em uma perda de interesse e até certo sentimento de desprezo por parte dela em relação a essa pessoa, particularmente se essa demonstrar fraqueza por necessitar dela. A mulher deste tipo pode ter relacionamentos bem-sucedidos que podem vir a ser emocionais, porém ela tende a guardar alguma distância neste aspecto, pois como “deusa virgem” nega sua própria vulnerabilidade e necessidade de ocorrer ao outro. É imprescindível que ela consiga trabalhar esse distanciamento dentro de si para descobrir que o amor e a confiança de outras pessoas são muito preciosos a ela.


Precisa trabalhar sua competitividade que pode vir a cegá-la como quando por não conseguir dizer não ao ser desafiada por seu irmão atira uma flecha em um pequeno pontinho no mar acertando, por fim o único homem a quem amou. Um de seus símbolos é o javali animal selvagem, caçador e violento; quando se enraivecia destrelava o destruidor javali de Cálidon para destroçar quem a ofendia. A mulher deste tipo pode vir a ser extremamente reativa e destrutiva com os outros assim como quando a deusa destroça o caçador. Uma boa forma da mulher trabalhar simbolicamente esse javali destrutivo interno em si seria em um processo psicoterapêutico, por exemplo, confrontar-se diretamente com sua destrutividade intensa; ela deve enxergar esse aspecto de si mesma ao qual deve trabalhar para ressignificar pondo fim a esta tendencia, antes que essa destrutividade a consuma e arruíne seus relacionamentos. É encorajado enfrentar esse elemento interno, pois é desta forma que a mulher será capaz de ver a própria crueldade nos outros (em forma de projeções). Um dos caminhos é através de Afrodite, e da capacidade de desenvolvimento da mulher de seu amor-próprio, que essa transformação é favorecida.


A humildade é uma grande lição para ela. Para desenvolver-se e integrar essas sombras em sua psique a mulher deve cultivar seu potencial menos consciente, receptivo, orientado para o relacionamento; precisa tornar-se vulnerável, aprender a se amar e interessar-se profunda e genuinamente por outra pessoa (uma boa forma disso é entendendo o poder da vulnerabilidade, elemento no qual atualmente tendemos a um enfoque negativo); Se isso vier a acontecer também pode haver a possibilidade de vir através de um relacionamento em geral com um a homem que ama, algumas vezes com outra mulher, ou tendo um filho. Frequentemente esse progresso pode vir a ser quando a mulher Ártemis já estiver esgotada de correr atras de suas metas, tenham essas sido conquistadas ou não, após a emoção de uma corrida, uma caçada, e o parceiro amoroso que a acompanhar nesta jornada  necessitará ter muita paciência até chegar neste ponto.

 

HÉSTIA

 

O Mito:

 

Héstia, Deusa da lareira, santificadora de templos e consagradora de casas, não era representada por mitos como as outras deusas, e não possuía uma persona (uma imagem),mas sim o símbolo do círculo e o fogo sagrado queimando nas lareiras eram suas representações. Era a Deusa menos conhecida por não ocupar grande espaço na mitologia grega, porém sua presença era essencial no dia-a-dia e as oferendas dirigidas à ela eram as melhores pois ela ocupava o centro das casas e templos, lugar este concedido por Zeus como presente. Mesmo sendo filha primogênita de Cronos e Reia, cedeu seu posto entre os doze Deuses principais do Olimpo para que fosse ocupado por Dionísio, Deus do vinho. Afrodite induziu Apolo, deus do sol, e Posídon, deus do mar a se apaixonarem pela deusa virgem, mas ela resistiu firmemente, mantendo a castidade eterna.

 

A Mulher Tipo Héstia

 

Quando criança lembra bastante a jovem Coré- Perséfone pelo seu bom comportamento e agradabilidade, mas se distancia dela pela sua qualidade ativa e autossuficiente. Passa a imagem de uma tranquila sábia e, quando ferida, encontra conforto na solidão, retirando-se para seu próprio íntimo. Os pais da mulher tipo Héstia se equivalem aos da própria Deusa: os pais são tiranos e dominadores e as mães ineficazes. Muitas foram psicologicamente independentes na infância. É ativa interiormente, mas expressa passividade além de tentar não se fazer notar, o que a faz tornar-se “sem persona”, enquanto imagem, tal qual a própria Deusa. Caso seus pais a apoiem, ela desenvolve-se como uma persona que se adapta ao ambiente e às pessoas, mas conserva as qualidades interiores de centramento, independência e tranquilidade emocional.


Na adolescência isola-se facilmente, passando uma imagem de que escolheu assim ser e de autossuficiência. Caso tenha mais contato social, seu círculo de amizades poderá cobrar-lhe competitividade e posicionamento em conflitos, aos quais prefere na medida do possível manter-se afastada. A adolescência é para ela um tempo de aprofundar seus princípios de ordem religiosa, podendo até decidir a seguir uma vocação neste âmbito. Caso ingresse em uma universidade, isto será devido à outros arquétipos das Deusas que possam estar nela ativos, ou porque é isso que “se espera dela”.


A mulher tipo Héstia não valoriza as posições de poder e não é competitiva no trabalho, portanto espera-se encontrá-la em um emprego tradicional para as mulheres, em um gabinete, proporcionando ordem e feminilidade ao seu ambiente de trabalho. Se sobressai em profissões que exijam paciência e serenidade, características próprias de sua natureza hestiana. Relaciona-se principalmente com outras mulheres tipo Héstia e tem, como dom, ouvir compassivamente mantendo-se centrada frente à qualquer agitação externa. Não sente necessidade ou falta de sexo, nem vivencia sua própria sexualidade, porém, experimenta o ato de forma íntima, ávida e calorosamente quando iniciado.


O casamento não representa realização pessoal para ela, mas quando casada é uma verdadeira dona de casa, assumindo as qualidades de Deusa da lareira. Pode passar uma imagem enganosa de dependência, pois permanece em segundo plano, porém continua autossuficiente, porque mantém as qualidades de deusa virgem. Os homens que se sentem atraídos por ela são aqueles que desejam uma mulher não tão sensível sexualmente, que seja independente e calma e que proporcione um  lar caloroso e pacífico. Com os filhos, ela é uma mãe calorosa que proporciona um ambiente familiar e não cria muitas expectativas para eles, deixando-os livres para serem como quiserem. Caso fique muito voltada para seu interior, pode passar aos filhos a imagem de impessoalidade.


Na meia-idade, seja qual for o curso de vida que tenha escolhido, como se retira em um convento ou casar-se, desempenhará seu papel tranquilamente e de forma autossuficiente. Envelhece graciosamente, sem queixar-se da vida ou temer a morte. Caso enfrente a viuvez o desafio será manter-se economicamente caso não esteja preparada para tal. Não enfrenta crises emocionais na viuvez ou devido ao ninho vazio, como mulheres tipo Deméter já teriam probabilidade de manifestar, e nem a “perda de poder” como as mulheres tipo Hera, porque conserva a qualidade de uma-em-si-mesma, característica das Deusas virgens e não encontra significado pessoal nesses papéis a não ser que a mulher tenha tido manifestações significativas destas deusas em sua psique no decorrer de sua vida também. A mulher tipo Héstia durante a idade madura, a “Héstia anciã”, com boa saúde e recurso financeiros, pode focar em si mesma e centrar-se em seu interior, por nunca ter sido motivada pela persona, não conta cada ruga que aparece, afinal provavelmente não terá muitas linhas de expressão. Dentro de uma sociedade patriarcal pode tornar-se invisível, o que é algo bom para ela. Para ela a dificuldade real seria muito mais a de enfrentar o mundo externo.


É uma manifestação de feminino mais improvável de se manifestar na primeira metade da vida de mulher, vindo a poder aparecer apenas na terceira fase da vida e se tornar importante com o passar dos anos. É de sua natureza o desabrochar tardio; mesmo quando Héstia é um arquétipo dominante na mulher, é difícil ter espaço para estar consigo mesma no mundo em que vivemos, e por isso, com o amadurecer, este arquétipo pode ganhar força. Se a mulher, nas primeiras fases da vida tinha características mais extrovertidas, pode haver frustração dos que convivem com ela, por não entenderem as razões dela agora preferir ficar sozinha ao invés do que com amigos e parentes. Porém, para a mulher, encontrar o conforto de Héstia pode ser um tesouro de valor imensurável.


A deusa é um grande arquétipo de sabedoria interior fazendo com que esta seja uma manifestação sempre muito positiva, porém como todas as deusas possuem seu lado sombra, uma grande dificuldade da mulher tipo Héstia na qual deve buscar ser trabalhado é justamente ao que faltava para a deusa; por não ter tido uma persona (figura, imagem), e por não ter se envolvido com ninguém (traições, casamentos, conflitos etc.), seria necessário prática para o êxito em impor-se e transitar em áreas de trabalho, relacionamentos pessoais, familiares etc. Ela pode vir a sentir-se desvalorizada especialmente quando busca adotar aplicando padrões dos outros em si, resultando em sentimentos de inadequação, incompetência e desajuste. 


Os sentimentos destas mulheres não costumam ser levados em consideração justamente por não ser um tipo que “aparece”, e por isso geralmente carece de afirmação por parte dos outros e não consegue comunicar francamente quando se sente desvalorizada ou menosprezada. Assim como o fogo, seu símbolo e representação, pode se consumir e “queimar-se” quando nos cuidados dedicados ao lar são logo após desorganizados, rompendo a ordem feita por ela, causando-lhe a sensação de que todos seus esforços não são reconhecidos e não tem significado. Como esse tipo tende a demonstrar o amor de formas indiretas, fazendo as coisas pelos outros de formas amáveis, e não costuma expor seus sentimentos mesmo quando trata-se da pessoa mais importante para ela, por não serem comunicados ficam igualmente difíceis de serem reconhecidos; é importante a mulher tipo Héstia aprender a comunicar seus sentimentos de tal forma que as pessoas que são especiais para ela saibam disso.


A mulher tipo Héstia tem que prepara-se para trabalhar a experimentação de muitas personas sociais afim de conseguir encontrar uma que lhe deixa mais à vontade para quando tiver que ir para o mundo; igualmente importante é trabalhar sua auto afirmação com a finalidade de maior auto confiança para a utilização desta(s) persona(s); desenvolver mais as deusas Atená e Artêmis podem auxiliar a mulher tipo Héstia por possuírem uma manifestação de masculino na psique que auxilia a mulher no mundo em suas batalhas diárias e pelo fato de estas duas deusas mitologicamente tomarem atitudes mais enfáticas no “mundo dos homens”.

 

Deusas Vulneráveis

 

Bolen (1984) classifica como Deusas vulneráveis Deméter, Hera e Coré-Perséfone, por necessitarem do aspecto masculino na psique para exercerem suas respectivas forças como arquétipos. Essas deusas também representam as três faces da Grande Deusa, assim como os papéis clássicos de mãe (Deméter), esposa (Hera) e filha (Coré-Perséfone). Trata-se de um padrão de deusa que, quando atuante na mulher, a realização desta no mundo interno e externo dependerá bastante de um relacionamento significativo. Têm a capacidade de afinar-se aos outros e são sensíveis, e para a mulher que possui aspectos psicologicamente vulneráveis, o desafio consiste em trabalhar consigo e seu mundo interno e equitativamente no mundo externo, nos vínculos pessoais e sociais, visando não ser diretamente tão afetada e até tão dependente destes.

 

HERA

 

O Mito:


Deusa do matrimônio grandemente honrada. Filha de Reia e Cronos fora engolida pelo pai junto com seus quatro irmãos, saindo de dentro dele quando jovem e cresceu aos cuidados de duas divindades da natureza. Zeus conquistou o posto de deus supremo ao vencer seu pai, e os titãs. Ao ser atraído por sua irmã Hera, transformou-se em um pássaro, do qual ela sentiu pena e acomodou em seu peito para aquecê-lo. Zeus, então, tomou sua forma verdadeira e tentou violá-la, mas a deusa resistiu até que eles se casassem.


A lua-de-mel durou 300 anos e, quando findada, Zeus voltou a ter amantes tal qual no período pré-nupcial o que deixava Hera furiosa, pois o casamento para ela era sagrado. A Deusa então agia se vingando das mulheres com quem Zeus se deitava, mesmo que elas fossem forçadas a isso; despejava sua ira nos filhos bastardos e nos espectadores, nunca no seu marido infiel. Ela também respondia às ofensas de seu marido se retirando do Olimpo e peregrinando até os confins da terra e oceano. Frente à injúria de saber que Zeus não precisava dela nem para ter filhos, pois ele mesmo concebeu Atenas, Hera teve Hefesto, Deus do fogo e da forja, o qual ela mesma expulsou do Olimpo por ser defeituoso e gerou sozinha também Tifão, monstro tirano. Juntamente com Zeus, concebeu Hebe, Ilítia e Ares, Deus da guerra. 

 

A Mulher Tipo Hera


Na infância, é aquela menina que, ao brincar de casinha manda o marido para trabalhar, limpa a casa e faz o jantar esperando-o voltar. Outro traço de Hera pode ser notado quando as crianças começam a “namorar seriamente”. Os pais da mulher tipo Hera geralmente possuem casamento exageradamente patriarcal, tal qual os pais da própria Deusa, com Cronos representando um pai dominador e poderoso, e Reia representando uma esposa passiva. Nesses casos ela se atém a uma imagem idealizada do casamento, mesmo quando o casamento de seus pais sempre fora aparentemente mantido por convenções sociais, ou, em situação mais feliz, deseja o mesmo para si.


Em sua juventude será uma menina muito mais feliz se tiver um relacionamento e a existência deste é uma grande prioridade para ela; especialmente se for com um jovem de alto status, que participe do grêmio do colégio, por exemplo, pois isto proporcionará à ela segurança emocional, ostentando sua aliança de compromisso e desprezando as jovens desacompanhadas. Futuramente não é um perfil de mulher que costuma se interessar atribuindo muita importância por estabelecer amizades com outras mulheres, a não ser que estas sejam casadas ou tenham um companheiro, porém a relação se caracterizará mais como uma aliança social. Abandona, sem dificuldades, amizades com viúvas, divorciadas e, também, com as solteiras, caso se envolva em um relacionamento sério. Quando adulta pode apresentar especial hostilidade com mulheres Afrodite por conta de sua sensualidade, atratividade e até sexualidade.


Desde cedo encara o estudo como parte de sua formação social e a faculdade como lugar ideal para encontrar um companheiro. Sua carreira é o seu casamento, o trabalho será secundário e de menor importância para ela. Planejará sua rotina e possíveis promoções em função de seu marido, sempre ocupando um cargo inferior ao dele. Ela é atraída por homens poderosos, o que em geral decorre de classe social e família. Muitos homens bem-sucedidos são imaturos emocionalmente e facilmente podem procurar vivenciar paixões fora do casamento; assim, ela se sente ferida devido à discrepância entre sua expectativa de realização pessoal arquetípica e a realidade. Quanto à sexualidade, pode ser despertada pelo marido ou, caso isso não ocorra, irá encarar o sexo como parte do seu papel de esposa. O casamento é satisfatório para a mulher tipo Hera quando o mesmo é importante para o seu marido, que é sua principal fonte de significado e identidade; ela sofre quando o casamento é de fachada, estritamente para compor uma imagem social, pois sente necessidade de envolvimento com o esposo. O que confere estabilidade ao seu casamento é a vida social compartilhada. Ela tem filhos como parte de seu papel de esposa, os quais podem sentir-se abandonados caso ela não consiga estabelecer um laço arquetípico mãe-filho, mas mantém o esposo sempre em primeiro lugar em sua vida, mesmo que isso exija sobrepujar os interesses dos filhos.


Sua realização pessoal na meia idade depende de ser casada e com quem; será infeliz caso seja solteira. Para ela, é extremamente difícil, na velhice, tornar-se viúva, pois não perde só o marido como também o papel de esposa, o significado da sua existência se esvai. Com poucos amigos e sem intimidade com os filhos, sua qualidade de vida depende de como foi provida no âmbito financeiro e da ativação de outras Deusas. As anciãs Hera mais felizes são as que na primeira e segunda fase da vida, aprenderam a fazer escolhas que resultaram um casamento solido e unido, estas mulheres que conheceram o aspecto sóbrio desta deusa, terão como característica maior a gratidão e com isso serão capazes de deixar florescer a sabedoria e compaixão. Hera pode desabrochar tardiamente, caso outros arquétipos tenham desempenhado seu papel e se retiraram. Isto pode ocorrer quando a mulher na primeira e segunda fase da vida se identificava com uma das Deusas virgens ou Afrodite.


A raiva de Ártemis é ultrapassada somente pela de Hera; embora a intensidade do sentimento de ambas pareça semelhante, a direção da raiva e a provocação diferem. A mulher tipo Hera se enfurece "com a outra mulher". A mulher tipo Ártemis fica provavelmente irada com um homem ou com os homens em geral por depreciarem ou por falharem ao encarar sem respeito. Não é à toa que muitos temiam sua raiva fulminante, e por este motivo é muito importante a mulher tipo Hera desenvolver outras deusas em sua vida, e também buscar na medida do possível realização externa ao casamento, pois assim conseguirá trabalhar essa raiva saindo do lugar de opressora, em especial de outras mulheres. O interessante aqui também é que ela pode vir a ser oprimida quando continua optando por convenções sociais permanecer num mau casamento, mesmo diante de muito sofrimento psíquico, mas pode e muitas vezes ser uma grande opressora com outras mulheres e as vezes até com seu marido (quando este não atende suas expectativas ou acaba-lhe sendo infiel) repetindo o padrão do arquétipo da deusa e sua história, onde a deusa torna-se a mais destrutiva de todas por conta de suas perseguições cegas e obsessivas por sua ira. A mulher tipo hera possui duas escolhas: deixar-se consumir pela raiva interna ou conter seus impulsos hostis e refletir em suas chances disponíveis?


Este aspecto irado e obsessivo, causa muito sofrimento à mulher Hera porque ela não consegue se ver destituída destes sentimentos, sendo necessário como já dito antes trabalhar a vigência de outras deusas e suas expectativas em relação ao casamento, a vida, trabalho etc.; desta forma esta mulher pode ser capaz de se enxergar dentro da situação sob uma perspectiva externa, conseguindo então buscar subsídios para resolver este sofrimento interno. Uma vez casada a mulher Hera muito provavelmente vai voltar seu foco para a vida no casamento, e do lar desde que voltado para a rotina de seu marido, o que pode deixá-la muito exclusa da vida social, e caso opte por não trabalhar isso pode acentuar-se ainda mais. A influência de outras deusas pode inclusive diminuir drasticamente quando uma mulher tipo Hera se casa, porém, este aspecto dependerá do quão desenvolvida ou não, ativa ou não as outras influências eram na vida desta mulher antecedentes ao casamento.


Quando há grande influência do social na vida desta mulher, especificamente se há envolvimento de crenças religiosas e expectativas familiares, esta pode vir a sentir-se impelida a continuar com um casamento “falido”, e até muito abusivo por questão de status social, ou pelo fato do que a sociedade dita “não ser bem-visto” uma separação/divorcio. Particularmente se é uma mulher que não precisou mais trabalhar desde que casou-se porque o marido teria condições de prove-la, essa problemática do relacionamento abusivo pode agravar-se mais ainda para uma possível saída deste relação; seria necessário esta mulher então dentro de uma situação como esta na psicoterapia trabalhar em primeiro lugar sua independência emocional, onde “não depositar” mais sua felicidade e realização total e completa no outro, e mais especificamente no marido, e em segundo lugar, seu retorno na medida do possível ao mercado de trabalho visando independência financeira. Outro fator interessante para a mulher buscar trabalhar é seu relacionamento com outras mulheres trazendo um pouco de Ártemis para si, tornando possível nutrir relacionamento fraterno. Seria muito interessante também a jovem mulher Hera ter autoconhecimento e dar conta de conseguir esperar e conhecer melhor e com mais tempo seu pretendente antes de casar-se: como é seu caráter? Temperamento? Está realmente compromissado com o casamento, o relacionamento? Tem maturidade para tal? Etc. Perguntas como essa a auxiliariam para maior reciprocidade do parceiro(a) e maior realização neste relacionamento.

 

DEMÉTER

 

O Mito:

 

Quando Coré-Perséfone foi raptada por Hades, irmão de Deméter, e levada para as profundezas do submundo, Zeus, seu pai, não se manifestou, mas Deméter, sua mãe, começou a procurá-la sem parar para comer, dormir ou se banhar. No décimo dia de procura, Hécate a levou à Hélio, deus do sol, que lhe contou sobre o rapto de Coré além da aprovação desse ocorrido pela parte de Zeus. Deméter enfurecida retira-se do Olimpo e disfarça-se de velha, vagando pelos campos até que chegar em Elêusis, onde foi encontrada pelas filhas de Céleo, o governador da cidade. Aceita cuidar do pequeno irmão das meninas, chamado Demofonte, que crescera feito um deus. Quando Deméter faz a tentativa de torná-lo imortal colocando-o em um fogo especial, a mãe do menino censura-a e, então, a deusa mostra sua verdadeira face.


Neste período de sua retirada do Olimpo, tudo o que era sua função como deusa das colheitas foi cortado, logo, nada podia nascer, e o povo já não mais ofertava aos Deuses. Zeus, sabendo do ocorrido, enviou mensageiros à ela para convencê-la a voltar ao Olimpo, o que ela faria apenas se sua filha lhe fosse devolvida. Avisa Hades por meio do mensageiro Hermes, para que trouxesse de volta Coré. Ela ficou alegre ao saber que voltaria e, antes de partir, comeu algumas sementes de romã que Hades lhe dera, tornando-se Perséfone, a rainha do mundo Avernal. Perséfone é trazida ao mundo superior e reencontra sua mãe. Esta lhe pergunta se havia comido algo no mundo Avernal, e como ela havia feito isso, passaria dois terços do ano no mundo superior com sua mãe, e o restante com Hades, seu esposo. Ao reencontrar a filha, Deméter devolve o crescimento à terra, e os Deuses já não mais estavam destituídos de oferendas.

 

A Mulher Tipo Deméter

 

Deméter é a representação do arquétipo materno é uma mulher muito nutridora não só dos filhos, mas em suas relações de modo geral. É uma mulher que deseja ardentemente se tornar mãe. Nutrir os outros e ter seus filhos nutrindo-os sempre é o que traz grande satisfação par a mulher Deméter. Pode-se facilmente identificar uma criança do tipo Deméter embalando suas bonecas em seus braços e até cuidando das crianças da vizinhança. Se teve um pai cuja atitude alternava entre desinteresse e competitividade acirrada, pode desenvolver a tendencia a vitimar-se em suas relações futuras, mas se teve um pai afetuoso, construirá uma imagem positiva dos homens e de seu futuro marido e, assim, a tendência não será intensificada. Em caso de pais imaturos, ela tão logo já crescida tomará conta dos pais e/ou dos irmãos mais novos, elemento provável de leva-la a uma psicoterapia no futuro, uma vez que além de sua disposição arquetípica do cuidar, por ter se tornado sua “própria mãe” muito cedo, virando uma criança que “abandonou” sua própria infância, não vivenciando este período importante de sua constituição; será uma mulher na qual cuidará de tudo e de todos sempre se deixando em terceiro, quarto, quinto, sexto plano e por aí vai, nunca priorizando-se, mas sim, sempre os outros.


É fato haver a disposição arquetípica dela para estar nesta posição de cuidadora, mas muitas vezes a família e sua dinâmica a colocam neste papel, e se pareado ao perfil da deusa pode futuramente levá-la a muitos apuros e situações e inclusive atitudes abusadoras por parte destes familiares que irão “aproveitar-se” (muitas vezes inconscientemente) deste acolhimento caloroso e generosa da mulher tipo Deméter, e de sua inabilidade de falar “NÃO”. Muitas mulheres Deméter passam pelo que pode-se nomear de síndrome da Wendy, aquela personagem do filme Peter Pan, na qual quando vai para a terra do nunca automaticamente se porta como a mãe dos garotos perdidos; a mulher que desenvolve essa síndrome fica igual, sempre são os outros em primeiro lugar, e ela faz tudo para agradar a todos, sem perceber que está se desagradando, se moldando para caber nas expectativas dos outros, e também não impondo limites, permitindo que as pessoas abusem dela. Na vida adulta, quando isso se acentua mais ainda, é extremamente necessário a mulher em um processo de psicoterapia aprender a se colocar em primeiro lugar e a falar não impondo limites as demais pessoas, caso contrário ire ter muito sofrimentos e desgastes tanto físico quanto emocionais provenientes a isso.


Não é motivação para a jovem tipo Deméter ter experiência sexual precoce ou viver em casal, e sim, ter seu filho. Ela precisa ter apoio dos pais e ter outros aspectos da sua vida preenchidos para que isso não ocorra precocemente.   Facilmente se casa logo após o colégio a fim de constituir uma família, mas caso isso não ocorra, ela irá trabalhar ou ingressar em uma faculdade, cursando algo relacionado à profissão assistencial ou educativa devido à sua natureza maternal. No trabalho, seja de ordem assistencial, educacional ou até organizacional, é ela quem nutre, muitas vezes assumindo ativamente o  papel de mãezona do ambiente profissional. No caso de uma organização, ela provavelmente será a mãe fundadora, quem imaginou e concebeu a corporação; nesse caso, podem surgir conflitos quando não puder realizar seu desejo de ter um filho, casar ou não for possível direcionar parte do seu tempo para outras atividades além do trabalho. Quando em posição de liderança, os funcionários esperam dela acolhimento e, em situações em que ela não corresponda a essa expectativa, eles se ressentem.


A mulher tipo Deméter se ressente com as mulheres que não valorizam a maternidade e só se mobiliza a competir com elas quando o foco são os filhos; inveja as mulheres em algumas situações, sendo uma de grande relevância, quando não é fértil; dificuldade de engravidar costuma ser um tópico extremamente angustiante para a mulher deste tipo, porque sua ânsia e energia psíquica está quase inteiramente voltada para isso. Quando ocorre uma perda gestacional, um aborto espontâneo (e até o provocado) essa perda de um filho por outras causas, simbolicamente é como se a Demeter tivesse se retirado do Olimpo e secado tudo a sua volta; ela perde grande parte de seu propósito e sentido de vida, sendo necessário muita resiliência para lidar com este luto, onde ela pode vir a desenvolver depressão e outras doenças psiquiátricas. Depressão pós-parto simbolicamente pode trazer o lado sombrio da deusa que secou tudo, retirando tudo dos seres humanos e do Olimpo; a mulher nesta condição irá negar a nutrição de seu filho, a interação com este, “enclausurando-se” do mundo e de suas funções, fazendo com que esta influência da deusa atinja um propósito destruidor para o outro, desnutritivo, de rejeição, negação deste “alimento” tanto literal quanto simbólico. Pode vir a sentir um conflito interno e culpa muito grandes quando os planejamentos envolvendo gravidez e maternidade saem errado ou não de acordo com suas expectativas.


Com seus filhos em seu lado sombrio, pode tornar-se mãe negativa quando, com o medo do rapto do filho (tal qual ocorre no Mito), torna-se dominadora e superprotetora, cerceando seus futuros relacionamentos com outras pessoas, sabotando o desenvolvimento e independência dos filhos desde muito cedo, sempre temendo algo que possa acontecer com a sua criança, fazendo com que seus filhos se tornem dependentes. É neste caso que a mulher Deméter tem que criar consciência que nutrição demais, também faz mal, porque trava o direito de desenvolvimento do outro. Quando as mulheres da sua idade já são mães e ela ainda não e  quando outras mulheres têm seus filhos perto delas e ela não por já serem crescidos e independentes cuida maternalmente de suas amigas, chegando a ter um vínculo de maior intimidade com uma amiga do tipo Deméter ou Perséfone do que com seu próprio marido. 


Seu casamento é encarado como algo que lhe possibilita ter filhos, no tocante à sua sexualidade, pode-se afirmar que ela não possui muito interesse sexual, encarando-o como algo a ser realizado a fim de procriar ou de nutrir uma necessidade de seu marido. Encara o homem como sendo filho-amante e relaciona-se com ele de forma maternal, nutridora e generosa, comparando-se à Grande Mãe e fechando os olhos para as suas irresponsabilidades. Geralmente atrai homens sensíveis e imaturos, os famosos e conhecidos pela “síndrome do Peter Pan”. Pode atrair também sociopatas que exigirão que ela supra suas necessidades, constituindo uma relação exploradora (lembra do golpista do Tinder?); homens que queiram uma esposa que cuide deles maternalmente, que se encarregue desde as refeições até a organização de sua vida social igualmente são candidatos ao amor de uma Demeter; pode atrair o homem familiar que busca constituir uma família e é o único tipo de todos citados anteriormente que não se sente ameaçado e inseguro com a ideia e o ímpeto da mulher em ter filhos. Se for um homem como os demais perfis, ao engravidar podem sentir-se ameaçados a perder o posto de rei da casa para o bebê, inclusive traições podem acontecer por parte do parceiro.


Na meia-idade a transição é bastante sentida pela mulher que tem essa deusa como dominante; no caso da entrada na terceira fase que pode coincidir com o ninho vazio, pode ser um momento doloroso para esta mulher, o que representa uma perda dupla para ela: a perda do papel materno e de “seus filhos” que já cresceram e foram para o mundo. Pode sofrer muito e até desenvolver grande depressão quando chega o dia de os filhos já crescidos saírem do ninho, deixando-a sem “identidade” e sem função materna, sendo necessário para a mulher deste tipo trabalhar sua identidade materna, e muitos outros papéis que são possíveis de serem exercidos em sua vida, como mulher, esposa, profissional etc. Será imprescindível esta mulher perceber ainda haver vida para si, projetos, e novos horizontes a serem explorados sem ser os da maternidade; se ela virar avó e este arquétipo continuar bastante vigente será a famosa avó coruja com os netos, uma extensão de seu papel maternal com os filhos.


Uma das crises desta fase pode consistir em ter filhos se não os teve; Deméter também pode surgir mais tarde, quando o relógio biológico já está acusando as mudanças hormonais, mas que ainda podem ser seguida de uma gravidez, ou ainda de uma adoção, trazendo um grande prazer nesta nova condição. Como dito, lidar com a independência dos filhos já crescidos e ativar outras deusas investindo em outras áreas de sua vida que não seja a maternidade é importante. Na velhice, pode continuar ativa, sentindo-se recompensada pela vida e sendo admirada por sua generosidade, ou pode se vitimar, sentindo desgosto pela vida repleta de desapontamentos.

 

Coré-Perséfone

 

O Mito:

 

Essa deusa possui duas faces: ela é Coré, a jovem associada a símbolos de fertilidade como a romã e as flores, e Perséfone, deusa experiente e Rainha do mundo Avernal, dos mortos e guia dos vivos que visitam seu reino. No Olimpo, Deméter se casa com Zeus e geram Coré (a jovem). Um dia, Coré brincando em Elêusis vê uma flor de narciso no qual fica encantada e a acaba cheirando. Ao cheirar esta flor, fica tonta e então, através de uma fenda que se abre no chão, Hades a puxa, raptando-a para o mundo Avernal. Deméter sente a falta de sua filha e fica louca a sua procura, saindo do Olimpo e a procurando pelo mundo inteiro. No décimo dia de procura, Hélio diz a Deméter que viu Coré ser sequestrada em Elêusis por Hades, e Deméter enraivecida retira-se do Olimpo e vai embora; a terra fica sem vegetação e sem fertilidade; então ela se transforma em uma ama e vai conhecer Céleo e Metanira, que são reis de Elêusis, e acaba ficando na função de cuidadora do filho do casal, Demofonte. Deméter decide transformar Demofonte em deus, para adotá-lo, levando-o ao fogo para sua purificação, mas sua mãe descobre e impede este processo com um grito. Deméter diz que só volta ao Olimpo quando encontrar sua filha e pede a Zeus para intervir a seu favor. Este manda Hermes ir até Hades para convencê-lo a devolver a filha de Deméter. Hades aceita devolve-la, mas dá sementes de romã para ela comer e assim ela torna-se Perséfone. Deméter vai ao encontro de “Coré” e ao abraçá-la, sente sua filha diferente e pergunta se ela comeu algo naquele mundo; por conta das sementes de romã, Perséfone terá que passar uma parte do ano em Hades e outra parte com sua mãe.


Perséfone sempre estava disponível para guiar os que visitavam seu reino: ajudou Ulisses, enviou para Afrodite um unguento de beleza por meio de Psiquê e Eros, emprestou Cérbero, o cão de três cabeças, para Hércules cumprir sua tarefa. Com a morte de seu amado Adônis, Afrodite o enviou para Perséfone para que ela o preservasse; a deusa do mundo Avernal se encantou com a beleza do caçador e recusou devolvê-lo. Zeus, então, decidiu que Adônis passaria um terço do ano com Perséfone, outro com Afrodite e no restante seria livre para fazer o que quisesse.

 

A Mulher Tipo Perséfone

 

Perséfone é juventude, vitalidade e potencial para novo crescimento. As mulheres que têm esse tipo permanecem receptivas a mudanças e jovens de espírito durante toda a sua vida. Mundo Avernal pode representar as camadas mais profundas de nossa psique. Simbolicamente já Perséfone a rainha deste mundo simboliza a capacidade e habilidade da mulher de movimentar-se de um lado para o outro, ou seja, entre a realidade do mundo real, concreto e externo a nós, e o mundo interno, privado (incluso inconsciente também).  Ainda criança a jovem Perséfone, a depender da relação que os pais estabelecem com ela, pode tornar-se passiva e complacente, caso vivencie com sua mãe o padrão Deméter-Perséfone, no qual a mãe lhe proporciona as experiências que ela mesma queria ter tido quando criança, e a jovem Perséfone acata essas vontades da mãe como se fossem realmente suas. Outra possibilidade para a jovem tipo Perséfone é tornar-se confiante em seu estilo receptivo e intrínseco de tomar decisões, as quais são a nível subjetivo e não racional; mas, para tal, precisa de pais que entendam e respeitem a sua qualidade introspectiva, proporcionando-lhe diversas experiências de acordo com a sua própria vontade. Ela representa a garota jovem que não sabe “quem ela é” e está até agora inconsciente de seus desejos e forças.


Caso tenha tido na infância uma relação vicária com sua mãe tipo Deméter, isso persistirá em sua adolescência, porquanto sua mãe continuará escolhendo por ela, desde o vestuário até as amizades, mais tarde se vier a ingressar na faculdade, muito provavelmente o fará por ser este o esperado devido à sua educação e classe social, e não por ter necessariamente escolhido. A filha Perséfone quer agradar sua mãe; esse desejo a motiva a ser uma “boa menina ”-obediente, condescendente, cautelosa e muitas vezes resguardada ou “protegida” de determinadas situações que possam expô-la a riscos, resumindo, vivendo em uma bolha. Embora a figura materna pareça forte e independente, essa aparência é em grande parte ilusória, vindo a encorajar a dependência por parte da filha somente para mantê-la por perto, ou muitas vezes necessita que sua filha vire uma extensão de si mesma.  Reparou que o pai quasse não aparece? Pois é, diante desta relação mãe-filha, ainda mais se constituída desta forma arquetipicamente Demeter-Perséfone (ou seja, revivendo o destino no mito), é como se fosse construído um involucro impenetrável em volta destas duas onde o pai pode até penetrar algumas vezes, ainda mais se este for dominador e intruso, atitude facilitadora e favorável para a filha dependente desta mãe, mas no fim este sempre será eventualmente expulso; a figura paterna pode também acabar nunca “se metendo no meio” por conta de forte possessividade da mãe Deméter para com sua filha, chegando a intervir com ações, palavras (muitas vezes por não saber nem como o fazer), o que pode agravar mais ainda essa simbiose entre elas; por este motivo também uma mulher Perséfone provavelmente não irá ter um relacionamento próximo com o pai.


Na adolescência terá a tendencia de ser considerada aquela menina-mulher inconsciente sobre seu poder de atratividade e sexualidade, contendo também muita inocência de sua parte; isso não será muito claro para ela, porém para os outros isso pode ser bastante evidente, podendo passar por situações desde muito cedo que simbolicamente a “violem”.  Enquanto é psicologicamente Coré, sua sexualidade está adormecida. Em relação a vida profissional pode continuar como “estudante profissional”, ou ir de fato para o mercado de trabalho. Pode ter a tendencia a ter vários empregos, pulando de um em um na esperando de algum um dia a agradará de fato. Saem-se melhor em empregos que não requerem uma iniciativa, persistência ou habilidade para supervisão, e quando há um modelo a quem quer contentar. Caso se desenvolva e amadureça mais sob a vigência de rainha do mundo Avernal, entrará em um campo psicológico, espiritual e criativo, podendo trabalhar como terapeuta, médium ou artista, profissões que demandam maior contato com o mundo interno. Em suas amizades sente-se confortável com pessoas que sejam como ela e sua amiga mais próxima provavelmente terá personalidade forte. Em geral, evoca atitude maternal nas mulheres que a cercam.


São atraídos pela mulher tipo Perséfone o homem jovem e inexperiente, como exemplo os namoros joviais de colégio, o homem malandro que a vê como algo precioso e oposto a tudo que ele é além de sua atração pela inocência e fragilidade apresentados por ela, e o homem que não se sente bem em um relacionamento com uma mulher amadurecida, preferindo uma que seja mais jovem e inexperiente que ele, para que assim possa se sentir poderoso e dominante (um exemplo mais “extremo” que podemos ver sobre isso são homens muito mais velhos em relacionamentos com mulheres mais novas as vezes com 20, 30 anos de diferença); neste último caso inclusive porque esses homens querem uma Perséfone que não as remeta a figura materna “poderosa e difícil de agradar”. Um relacionamento é para a mulher tipo Perséfone é uma forma de se separar de sua mãe dominante, sendo que, à priori, será joguete entre os dois até que se decida entre voltar para a mãe como filha submissa ou realizar a ruptura. Em via de regra apaixona-se e escolhe um homem no qual a mãe desaprova totalmente, onde não faz jus a imagem de bom moço, podendo ter poderes aquisitivos diferentes, realidades diferentes, onde esse homem não irá tratá-la como a menina mimada a vida inteira pela mãe, horrorizando a mãe Deméter, que passará a reconhecê-lo como adversário em potencial podendo vir a realizar tentativas de sabotagem a este relacionamento.


Muito provavelmente pela primeira vez a filha Perséfone se encontra em desigualdade com sua mãe e seus padrões de comportamentos. Esse parceiro pode vir a fazer pressão para que ela se decida entre ser fiel à figura materna suprindo as expectativas desta desistindo de buscar sua aprovação ou rompa com essa relação simbiótica. Simbolicamente se se decidir pela mãe fará o papel da filha sequestrada que retorna ao lar, e se decidir por ele a filha que se torna rainha e opta por realizar essa ruptura para viver sua vida. Pode até ser que ela não deve tenha necessariamente escolhido casar-se, e, sim, se submetido à vontade e insistência de seu companheiro, como também pelas normas sociais. No casamento pode agir tal qual a própria Perséfone e sentir-se cativa de seu próprio marido que, arquetipicamente, a raptara tal qual Hades no mito. Assim, caso outras deusas não sejam ativadas para despertar-lhe outros aspectos, provavelmente será hostil no casamento. Pode as vezes ter aceitado casar-se através de um arranjo entre a mãe e o candidato, fazendo com que ela apenas diga “sim”, mas nunca de fato se case psicologicamente, emocionalmente casando-se com reservas mentais fazendo somente um compromisso parcial. Quanto à sua sexualidade, pode permanecer adormecida até que seja despertada pelo “príncipe” tão esperado, isso tanto na fase da adolescência quanto na vida adulta. Muitas acabam de fato sendo despertadas através do parceiro (um elemento masculino), onde percebem-se mulheres orgásticas, sexuais, efeito positivo em sua autoestima.


Ao ter filhos, os ama, valoriza a independência deles e, caso tenha outras deusas desenvolvidas, mostrará a eles a importância da vida interior como nascente de criatividade. Caso outra deusa não seja ativada, não se sentirá uma mãe autêntica ao comparar-se com a sua própria mãe, sentindo-se incompetente e insegura quanto aos cuidados para com a criança. Se a avó Deméter se utilizar de seu poder dominador ou até de discursos como: “você está cansada, descanse enquanto eu assumo aqui”, “seu leite não está suficiente para o bebê use a mamadeira” etc., e Perséfone sob a regência Coré permitir, esta avó poderá tomar a criação da criança para si, acentuando sua dificuldade.  Pode, a depender da personalidade de seus filhos, submeter-se à filha ou tornar-se irmã inseparável e, no caso de filhos homens, fracassar em estabelecer limites.


Na meia-idade embora a regência de Coré-Perséfone permaneça eternamente jovem, a própria mulher envelhece, biologicamente falando, e conforme as marcas da idade surgem pode vir a angustiar-se com elas e sua aparência. É provável que tente manter a juventude de todas as formas, incluindo cirurgias plásticas e manutenção de comportamento juvenil e, caso venha a ter depressão, esta pode ser negativa no sentido de estagná-la ou positiva no sentido de proporcionar-lhe oportunidade de amadurecer (isso caso não tenha ativado outras deusas ao longo de sua vida ao, por exemplo, estabelecer compromissos duradouros). Se evoluiu de Coré para a rainha Avernal, por ter feito compromissos e tido experiências que a mudaram será poupada de uma depressão.; se esta transição foi realizada, na velhice representará beneficiando-se muito da figura de uma sábia anciã que possui conexões psíquicas e espirituais profundas em seu interior e conhece os mistérios da vida e morte, o que faz com que não tenha medo de sua finitude. Será uma mulher onde na terceira fase da vida, se entretêm com passatempos como visitar museus e colher flores. Age de maneira descontraída, mas também sabe ser madura, ou seja, ela mantém algumas características de donzela e ao mesmo tempo tem a sabedoria de Hécate, deusa anciã. Se esta Deusa desabrocha tardiamente, a mulher acaba sendo uma mãe para si mesma, usando de bastante tempo para o lazer.


Como no mito Coré é sequestrada contra sua vontade e no fim come as sementes de romã, cada fase na vida desta mulher terá um provável paralelo com o mito onde as mulheres poderão crescer, evoluir e aprender com cada uma, ou tornar-se impedidas de evoluir e ultrapassar certas fases e desafios, estagnando. Por ter uma tendencia à personalidade complacente e passiva, a mulher desde muito cedo pode pegar-se sendo “dominada”, “pisada” e até influenciada pelos outros.  A mulher deve então aprender a lidar consigo mesma e descobrir seu poder interior (Perséfone) para evitar situações abusivas. O trabalhar na psicoterapia o autoamor será de grande valia, uma vez que há a tendencia de a mulher deste tipo formar relações codependentes com as demais pessoas com quem se relaciona: amoroso, amizade, trabalhista, familiar etc.


Quando há grande identificação da mulher com Coré, em especial simbolicamente será como se ela fosse a eterna jovem que não se compromete com nada e ninguém poque fazer escolhas implicam em eliminar todas as outras possibilidades. O sentimento é como se tivesse todo o tempo do mundo para tomar decisões, e por isso não é necessário olhar para isso “neste momento”; ela vive no mundo de Peter Pan recusando-se a assumir responsabilidades. Assim como Wendy fez a escolha de retornar para crescer, a mulher Coré necessita ultrapassar esse limiar psicologicamente falando para tornar-se Perséfone: deve aprender a estabelecer compromissos e cumpri-los, lutando contra a indecisão, a passividade e inercia. Enquanto suas atitudes forem características de Coré, ou ela nunca irá se casar, ou se casará, mas simulará um compromisso para ela irreal ou inexistente, pois arquetipicamente ela é sequestrada e “forçada” ao modelo do casamento, sendo necessário a mulher trabalhar sua ideia de que o casamento não necessariamente sempre é rapto/sequestro que necessita ser combatido ou ressentido.


No mito ao ser questionada pela mãe se havia comido algo em sua estadia no mundo Avernal, mente dizendo que não, e depois abre-lhe que sim, porque Hades a havia forçado, quando na realidade Perséfone come as sementes porque quis, para assim garantir o retorno ao mundo Avernal. O desvio, a mentira e até a manipulação podem ser problemas para a mulher Perséfone pois por buscarem evitar provocar raiva no outro podem utilizar-se desses subterfúgios para adulação dos demais. O narcisismo é outra questão, pois por terem sidos sempre consideradas “tão exclusivas” por suas mães Deméter  crescem com a noção de que o “mundo gira a seu redor”, ansiosamente fixadas em si-mesmas perdendo a habilidade de relacionar-se com o outro. Pode vir a ser forte candidata a desenvolver depressão quando dominada e limitada pelas pessoas que a mantem amarrada a elas. Tenderá através de complexos de insegurança, inadequação, autocritica, a nutrir sentimentos ruins contribuindo para sua depressão.


A mulher deverá lutar como Perséfone com sua Coré interna visando um crescimento tornando-se ativa de seus processos, de sua vida, de suas vontades e desejos, assumindo seus compromissos. É o famoso criar autonomia perante a vida e entender que existe dentro de si um poder interno muito forte e que é possível acessá-lo e utilizá-lo a seu favor. Aprender a desgrudar desta relação codependente mãe-filha também será essencial para a mulher uma vez que quando inicia este caminho, atitudes por parte da mãe fazem com que ela sinta muita culpa.  Seria interessante a mulher buscar ativar deusas como Ártemis, Atenas para ter forças de realizar estes movimentos. Uma vez que a mulher desce as suas profundezas, explora o seu profundo reino do mundo arquetípico e não teme retornar e reexaminar sua experiencia (Assim como a deus Inanna), pode virar mediadora entre a realidade comum e a não comum, e se for capaz de transmitir o aprendido e sua experiência disso, poderá vir a ser uma excelente guia para as demais pessoas.

 

A Deusa Alquímica 


Afrodite

 

Afrodite foi considerada como deusa alquímica por Bolen (1984) devido ao seu poder de transformação e criatividade no âmbito do amor uma vez que fez com que todas as divindades (exceção às deusas virgens) se apaixonassem e gerassem vida nova; Outra justificativa em ser deusa alquímica também se deve ao fato de em alguns aspectos ela se aproxima das deusas virgens e vulneráveis e, em outros, se distancia, não se encaixando em nenhuma dessas definições. Aproxima-se das deusas vulneráveis, pois o envolvimento com os outros especialmente os homens é importante para ela mas, ao contrário delas, não encara isso como algo a longo prazo, mas como algo a ser consumado. Foca no que é pessoalmente significativo para ela, tal qual as Deusas virgens, mas são outras coisas que ela busca. Teve várias ligações sexuais com as divindades masculinas, concebeu filhos tal qual uma deusa vulnerável, porém o fez porque isso lhe agradava, tal qual uma deusa virgem. Sua grande diferença das demais deusas é o fato de em seus relacionamentos o desejo era mútuo e ela nunca foi vitimada.


Afrodite influencia todas as expressões de amor, desde o romântico ao fraternal, sempre motivando união e concepção, que pode ser a concepção de algo novo, imprescindível no campo da criatividade e comunicação. Valorizava a experiencia emocional com os outros mais do que a independência emocional dos outros (característico as deusas virgens) ou laços permanentes com os outros (característico as deusas vulneráveis). A quem quer que Afrodite impregne com beleza torna-se irresistível. O sexo representa comunhão e é de ordem psicológica e espiritual para este padrão arquetípico. Pode-se dizer que o que move Afrodite é o anseio de conhecer, como também de ser conhecido. Se o desejo a conduz a intimidade física, a impregnação e a nova vida podem se fazer. Se a união for também de mente, coração ou espírito, o novo crescimento ocorre em esferas psicológica, emocionais e espirituais.


Ao influenciar um relacionamento seu efeito não é estrito ao romântico/sexual, mas o amor platônico, conexão de almas, fortes laços que podem ser sentidos em quaisquer esferas de relação (amizade, trabalhista, familiar), gerando uma compreensão empática em quaisquer expressões de amor. Possui consciência enfocada e receptiva, tanto compreende objetivamente quanto é acometida/absorvida pelo que vivencia; qualquer pessoa passou por isso desde que tenha se apaixonado por outra pessoa ou por algum objeto, por exemplo. Nos relacionamentos, é destacada a sua característica de ver o potencial no seu companheiro, influenciá-lo com suas expectativas positivas e acreditar nos sonhos dele, inspirando-o a alcançá-los. A consciência de Afrodite se faz presente em todo trabalho criativo, que nos inspira, inspira nossas vidas, nos “dá sentido”, incluindo até aqueles que são feito em solidão. A expectativas, a descoberta, o nascimento de algo novo são elemento-chaves na criatividade e comunicação.


O arquétipo de Afrodite governa o prazer do amor e da beleza, da sexualidade e da sensualidade das mulheres. A esfera do amante manifesta uma poderosa atração em muitas mulheres; como força em relação à personalidade de uma mulher. Afrodite pode ser tão exigente quanto Hera e Demeter, os outros dois fortes arquétipos instintivos. Impele as mulheres a preencherem funções criativas e pró criativas. Quando acontece uma paixão na vida da mulher recíproca, neste momento está ocorrendo uma personificação de Afrodite. No mundo patriarcal através de seu modelo machista uma mulher sob essa regência seria muito provavelmente considera “p*ta” ou fácil. Por se fazer presente um grande instinto de criação, Afrodite apresenta o ímpeto de assegurar a continuação da espécie. Por ser um arquétipo muito ligado ao ímpeto da relação sexual e da paixão. Ao contrário de Deméter que sua realização e resultado de relação sexual é  ter um bebê, Afrodite tem um bebê como resultado de seu desejo por um homem ou por conta do desejo da experiencia sexual ou romântica, por este motivo é muito importante a mulher buscar realizar um controle de natalidade caso não deseje ter filhos tão cedo. Em relação a criatividade, é uma força tremenda para mudança, pois através dela fluem: atração, união, fertilização, incubação, e nascimento de nova vida.  

 

O Mito:


Afrodite, Deusa da beleza e do amor, representada por Botticelli na obra “O nascimento de Vênus” e disputada pelos Deuses, tem duas versões de seu nascimento. Segundo Hesíodo, Cronos cortou os testículos de Urano, seu pai, lançando-os ao mar; uma espuma branca envolveu os órgãos juntamente ao mar e assim nasce Afrodite, completamente desenvolvida. De acordo com Homero, a Deusa de cabelos dourados foi concebida por Zeus, Deus líder do Olimpo, e Dione, uma ninfa marítima. Afrodite tomou como esposo Hefesto, o Deus imperfeito dos artesãos. Ela teve vários filhos com seus amantes, mas não os teve com seu marido. Teve relações sexuais com os Deuses Hermes e Ares, por exemplo, concebendo hermafrodito com o primeiro e Harmônia, Deimos e Fobos com o segundo. Um amante famoso foi Adônis, que mesmo advertido pela Deusa para manter-se distante das bestas selvagens, morreu ao caçar um javali e fora compartilhado por Afrodite com Perséfone, que ao recebê-lo no mundo Avernal apaixona-se por sua beleza, e permite que ele passasse parte do ano com sua amada de beleza celestial no mundo dos vivos.


Hera e Atená se rebelaram contra o poder da beleza de Afrodite sobre os deuses e reivindicaram sua coroa na disputa da maçã de ouro, durante as núpcias de Peleu e Tétis. O juiz troiano Páris premiou Afrodite como a mais bela, pois ela lhe havia prometido a mulher mais bonita do mundo, que era Helena, esposa do rei de Esparta, resultando assim na guerra de Tróia. Graças a Afrodite e às suas três maçãs de ouro, Hipômenes pôde ganhar de Atalanta na corrida, e tomar a sua amada como esposa. Também ajudara Pigmalião, trazendo à vida a estátua da mulher ideal que ele esculpira; mas ela também exercia sua vingança à quem tivesse a ousadia de comparar-se à sua beleza ou deixar de adorá-la, como exemplo o que aconteceu com Psique e Andrômeda.

 

A Mulher Tipo Afrodite


Desde sua juventude já possui um magnetismo pessoal que chama atenção e sente pressa de crescer para poder usar roupas elegantes e maquiagem. Pode estar ou não consciente de sua sexualidade e, quando está, gosta do poder e atração que têm em relação aos homens e as pessoas a sua volta. É uma criança que geralmente tem natureza mais extrovertida e gosta de relacionar-se com os outros. Os pais de uma filha tipo Afrodite se forem coniventes e incentivarem sua natureza desde sempre, provavelmente a vestirão de acordo, a incentivando e inscrevendo-a em concursos de beleza desde cedo, porém quando a puberdade chega e a sexualidade “entra em jogo”, o cenário pode mudar, e  podem passar a culpá-la pela sua atratividade sexual, reagindo de forma hostil, carcereira, dominadora, restringindo o círculo de amizades da mesma e controlando o seu vestuário; o que foi muito incentivado no início de sua vida, agora é desencorajado e hostilizado.


 Algumas mães em busca de controlar suas jovens Afrodites em uma “rédea curta” podem se interessar nos encontros das filhas querendo saber os detalhes, ou até chegar a agir de modo sabotador e competidor com a filha afim de destruir sua feminilidade ao flertar com seus namorados, por exemplo. Já pais mais adequados e prestativos valorizam não só sua atratividade como também todas as suas qualidades sem se tornar algo excessivo, maçante, encorajador ou até repressor, mas sim de forma natural, fazendo com que ela cresça consciente de seu magnetismo pessoal e não culpada. São pais que irão incentivá-la e valorizar suas outras qualidades como inteligência, bondade e talento para arte.  Se ela marcar um encontro irão direcioná-la em orientações e limites mais apropriados a sua maturidade e idade.


Mais tarde se agir conforme seus impulsos na adolescência, pode criar má reputação, atrair rapazes que queiram apenas sexo com ela, não a considerando “dating material”, afastar as meninas e ainda possivelmente ter uma gravidez não desejada ou contrair uma doença sexualmente transmissível. Pode também omitir sua sexualidade motivada pelo seu contexto social, religioso, sentindo-se culpada por ter tais impulsos, ou, expressar-se em relacionamentos seguros. Na faculdade, ingressará em algum curso voltado mais para o âmbito social e criativo do que o acadêmico, estudando apenas os assuntos que lhe deixarem fascinada, tendo um bom desempenho em artes dramáticas. Prefere um trabalho no qual possa exercer sua criatividade e que possa estar com pessoas especiais para ela, troca facilmente um emprego bem pago por um que a fascine, pois aprecia a intensidade e variedade. Um trabalho que não a envolva emocionalmente não possui interesse algum para ela.


Quando adulta em geral, desperta ciúmes e hostilidade nas mulheres devido a sua atratividade sexual, e pelo interesse e empolgação que os homens demostram quando conversam com ela. É muito comum ser menosprezada por outras mulheres especialmente as Heras que irão querê-las o mais longe possível de seus maridos, justamente por esse poder de atratividade e magnetismo que possuem. Toma as zangas e fúria das Heras com indignação e abalo, uma vez que sua natureza não costuma ser ciumenta ou possessiva.  Algumas de suas amigas compartilham das mesmas características ou lhe fazem companhia como ouvinte de seus casos amorosos; será bastante amiga de muitas mulheres Afrodite, Perséfone, Ártemis, Demeter, e até Atená e Héstias, dificilmente das Heras justamente pelo fato de as mulheres Heras não permitirem uma aproximação tão grande.


A mulher tipo Afrodite traz a consciência de Afrodite aos seus relacionamentos, e posteriormente ela mesma responde a alquimia que gera; possui tendência para homens que não necessariamente são bons em relação a ela ou para ela, esse não houver a influência de outras deusas na escolha de um parceiro, provavelmente sua tendencia será em geral, a três tipos de homens: o homem tipo Hefesto, introvertido, artista e, se sente constrangido em ocasiões sociais, sendo mal-humorado, complicados e emotivos. Ela é atraída pela sua natureza erótica e paixão intensa, correspondendo a esses aspectos. O problema é quando a raiva é o sentimento que ele guarda na alma, podendo explodir a qualquer momento tal qual um vulcão adormecido e, também, merece atenção a sua saúde psicológica.


O homem tipo Ares, desordenado, apaixonado, emotivo, com momentos de macheza e intolerante à frustração. O casal compartilha do mesmo sentimento de viver o aqui e agora, fazendo igualmente amor e guerra, é uma mistura inflamável a combinação entre esses dois deuses, onde juntos podem tornar-se extremamente reativos para com o outro. Para que o relacionamento seja estável e duradouro, é preciso que o homem tipo Ares tenha tido uma boa situação familiar e outras deusas deverão estar ativas na mulher tipo Afrodite.


Já com o homem tipo Hermes, o deus mais jovem de todos os olímpicos, podendo ser um homem psicologicamente “eternamente jovem”, às vezes trapaceiro e amante, intenso sempre, a combinação fica por conta dos dois gostarem de viver intensamente o aqui e o agora e pela falta de compromisso de ambas as partes, e se caso surja interessa da mulher Afrodite por um relacionamento dificilmente o homem tipo Hermes irá aceitar “amarrar-se”. No caso de um homem tipo Hermes amadurecido, ele se empenhará em compromissar-se, poderá ter um trabalho que envolva viagens, caracterizando o relacionamento com momentos de envolvimento e de independência.


É difícil para a mulher tipo Afrodite manter um casamento monogâmico por muito tempo, sendo mais fácil ter uma coleção de relacionamentos sucessivos caso não haja a ativação de outas deusas; neste caso Hera seria bem-vinda para fortificar e vitalizar o casamento com sexualidade e paixão. Assim como a deusa, a mulher provavelmente se verá seguindo um padrão de relacionamentos sucessivos. Torna-se intensamente envolvida na relação apaixonando-se muitas vezes gerando esses consecutivos relacionamentos. As mulheres lésbicas muitas vezes podem encontrar Afrodite e despertar essa deusa interiormente através de relações com outras mulheres: neste caso através do olhar de admiração da outra, de sua beleza magnetismo, atração, e até de sua alquimia, a mulher quando se depara com sua Afrodite interior através da parceira, também acessa todas essas coisas em si, permitindo-se acessar sua sensualidade, seus desejos, seu feminino (aqui não em um sentido impositivo, determinista e até limitante em relação ao que é “feminino”, mas sim sobre um essência mais arquetípica regente a todos nós seres humanos).


No que concerne a crianças sejam suas ou não a mulher Afrodite tem a tendencia amá-las e vice-versa, uma vez que a criança enxerga esse olhar desta mulher para com ela como não julgador e compreensivo. Quando tem filhos,  ao focar sua atenção nele(a) compreende seus sentimentos e habilidades, instiga autoconfiança na criança e o contagia com seu entusiasmo. Com a manifestação de Deméter junto, podem intensificar essas habilidades da mãe Afrodite resultando em filhos que cresçam confiantes de si mesmos, desenvolvendo suas qualidades e habilidades obtendo provável sucesso. Porém, sem a ativação de outras deusas faltará a constância, em um momento toda a sua atenção está voltada para ele, no outro está voltada à outra coisa, e é nesse momento que a criança se sentirá, provavelmente, inútil e desolada; isso pode vir a afetar relacionamentos futuros desta criança com as demais mulheres assim como sua autoestima, gerando potencial para o desenvolvimento de uma depressão. 


Pode enfrentar crises na meia idade caso a beleza física tenha sido sua fundamental fonte de gratificação ou perceba que escolheu mal seu parceiro e, pode evitá-las caso sua atenção em maior parte esteja investida em algum trabalho que demande criatividade, desta forma são capazes de reter seu entusiasmo e ainda se retirarem ara o trabalho que as interessa. Tipicamente jovens por dentro independentemente da idade, ela perpetua a sua paixão pelos outros e pelo seu trabalho criativo, se conserva jovem por dentro atraindo amizades de todas as idades, sempre esbanjando graça e vitalidade. A Afrodite anciã costuma saborear a experiência de viver sorvendo cada vivencia cada detalhe sempre com que de apaixonamento em tudo que se propõe a investir sua atenção. Sua capacidade de se manter no presente se torna um ponto positivo, aumentando sua qualidade de vida.


Tem como característica sentir amor pelas pessoas, objetos e lugares e isso não muda na velhice. Por estar velha pode deixar de ser um objeto sexual dos homens, mas a sua sensualidade é inerente, independente dos homens reagirem a ela ou não. Os anos de maturidade são um momento que florescem mais intensamente aspectos criativos de Afrodite. Esta mulher, que pode ter se sentido desencorajada em usar seu lado criativo nas primeiras duas fases da vida, têm tempo de desenvolver sua criatividade neste momento mais calmo. O arquétipo pode surgir somente na terceira fase da vida; por mais que na nossa sociedade atual a ideia de surgirem novas paixões na idade madura não seja bem aceita, ela acontece, o que torna ainda mais mágico por ser inesperado.


Em seus aspectos sombrios, nunca é fácil para a mulher deste tipo que segue sua sexualidade instintiva porque muitas vezes por um lado fica prensada entre seu próprio desejo de ligação sexual e sua propensão por gerar energia erótica nos outros e, de outro lado, através da cultura ser considerada promiscua por agir de acordo com seus desejos. Muitas vezes a mulher Afrodite pode se pegar em um relacionamento com um homem casado, no qual sempre diz-lhe que “só consegue abrir-se por completo com ela, ser quem ele de fato é”, porém dificilmente se tornará um parceiro que a assumirá; se a mulher estiver apaixonada e amando de fato esse homem pode vir a sofrer bastante, se for mais um apaixonamento erótico, pode manter-se nesta relação enquanto estiver obtendo seus objetivos desta, ou até escolher sair dela e virar-se para outras. Outras consequências deste comportamento espontâneo da mulher Afrodite em se jogar nas relações podem ser uma série de relacionamentos superficiais, homens que se aproximam somente pela questão sexual, e consequentemente uma autoestima baixa; ela precisará saber identificar as circunstâncias, as intenções das pessoas, muitas vezes até conter seus impulsos afim de escolher mais sabiamente “quando e com quem”, não se impulsionando em situações “destrutivas” para si.


Como possui a tendencia por jogar-se nas relações e viver no “aqui-agora”, se ela não identificar o padrão de “jogar-se de cabeça” pode ver-se em situações muito complicadas quando retirar-se destas, uma vez que muitos homens podem sentir-se rejeitados, feridos, descartados e até ofendidos com sua atitude, pondo-se zangados, violentos e muitas vezes persecutórios; se for capaz de desenvolver esse discernimento pode mostrar mais sua indisponibilidade para com ele, e até tornar-se mais impessoal em sua conduta. Não quer dizer que isso impedirá ela e qualquer outra mulher de sofrer algo assim vindo de um homem, mas essas atitudes podem ser providenciais em alguns homens cheios de complexos. Caso a mulher almeje por um relacionamento sério, seria muito importante conscientizar-se que deve aprender a amar alguém com suas qualidades e inclusive seus “defeitos e tudo”, um ser humano e não um deus. Tem que trabalhar afim de tornar-se mais desencantada com as fascinações sem profundidade, e para isso, será necessário ela dar uma chance àquela relação vivida no momento presente, só assim irá de fato conhecer o parceirx e ser capaz de descobrir as reais dimensões do amor.  


Como já dito antes, se a mulher desde pequena é criada em uma atmosfera de culpa, na qual se condena a sexualidade, ela vai crescer com esse sentimento constante, acarretando sentimentos de depressão e ansiedade. O resultado disso é a  perda de contato com sua verdadeira natureza perdendo vitalidade e espontaneidade.   Quando a mulher Afrodite for capaz de conscientizar-se de seus padrões arquetípicos citados acima, ela pode de fato libertar-se da culpa de ser quem é. Outro fator importante é conscientizar-se de que é necessário cuidar de seus interesses próprios porque a deusa não o faz. Se chega a desenvolver habilidade ou adquire informação, Ártemis e Atená são capazes de desenvolver-se  mais ativas na psique da mulher também; se desenvolve Héstia na meditação pode identificar melhor seu impulso erótico; se cultivar a introversão de Perséfone pode permitir-se vivenciar uma experiência sexual na fantasia em vez de na realidade.


Como saber qual deusa está falando comigo? Como identificar isso em minha vida e ativá-las dentro de mim?


A primeira coisa é conhecer o próprio padrão arquetípico; ele será forte aliado e informação muito valiosa para todas nós mulheres trabalharmos nossa psique. Neste processo será imprescindível trabalhar seus aspectos conscientes e inconscientes da psique, como já dito, os arquétipos são regências universais e só os acessamos através dos símbolos; é trabalhando estes símbolos e regências dentro de nós, nos conscientizarmos de nossas tendencias, padrões; a psicoterapia junguiana irá te auxiliar muito bem nesse processo. Quando estas apresentam aspectos mais conflituosos de nós mesmas devemos solucionar estes conflitos, focalizando nas necessidades e interesses de cada deusa e, posteriormente, decidir por nós mesmas o que é mais prioritário em nossas vidas. Muitas vezes elas estão muito inconsciente dentro de nós e precisando de ajuda para sair, ser identificada, por isso a psicoterapia junguiana seria grande aliada te trazendo mais consciência sobre seus padrões arquetípicos, as capacidades das deusas, onde elas se manifestam mais em sua vida etc.


Gosto de aplicar um questionário com minhas pacientes em busca de identificar melhor qual deusa está mais regente em sua psique naquele momento e quais deusas não tanto; a partir disso vamos realizando um processo de identificação destes padrões na vida da mulher, como ela reage a isso, se é necessário trabalhar a sombra destas deusas e até a como utilizá-las em seu favor. Exercícios que realizo junto às pacientes são ferramentas facilitadoras e possuem o objetivo de a mulher identificar dentro de si qual deusa está falando por ela naquele momento, ou em determinadas situações, e como ela pode estabelecer maior comunicação não só com essa deusa mais regente, mas com todas.


Inclusive aconselho as pacientes a fazerem os questionários em seus parceirxs uma vez que pelo fato de serem arquétipos todo e qualquer ser humano está sob a regência destes; e no caso de nossos parceirxs amorosos, a depender de determinada regência podem vir a acontecer conflitos na relação e através dos entendimentos destes padrões pode facilitar a comunicação na vida do casal. Os homens e mulheres também podem ter regência dos deuses gregos: Zeus, Poseidon, Hades, Apolo, Hermes, Ares, Hefesto e Dioniso, porém essa parte dos deuses e sua manifestação vai ficar para um outro momento. caso vocês tenham gostado do conteúdo, quiserem se conhecer mais através das deusas gregas e até dos deuses gregos, fiquem à vontade para entrar em contato comigo, e se quiserem que eu escreva sobre os deuses na vida do “homem” (no qual mulheres também possuem regência arquetípica), me avisem que preparo o material para vocês.

 

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