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Dia das bruxas e o arquétipo da bruxa... O que a mulher do século XXI tem a ver com isto e como o resgate deste arquétipo é importante em sua vida?

Foto do escritor: Marco Antonio RamosMarco Antonio Ramos

No dia 31 de outubro se é comemorado a data oficial do Halloween, também conhecido como Dia das Bruxas. A origem do festival é celta e o objetivo deste era celebrar o fim da época das colheitas; mesmo com o cristianismo, o festival foi batizado de halloween que marca a véspera do dia de todos os santos. Agora o que podemos trazer sobre o arquétipo da bruxa?


A psicologia analítica estuda e fala muito a respeito das manifestações dos arquétipos na vida dos seres-humanos. Os arquétipos são representações de imagens e símbolos universais comuns a todos os seres humanos, no mundo todo. Eles estão “localizados” dentro do nosso inconsciente coletivo que é uma herança herdada por toda a humanidade. Não podemos acessá-los em sua essência, mas estes, por sua vez, aparecem representados em nuances através de mitos, contos de fadas, sonhos, etc. É deste modo do qual entramos ‘’em contato’’ com eles.


Bruxa, por definição, é aquela que submete e molda as forças da natureza, sejam internas, a nível intrapsíquico, na vida da mulher e externas. Esta faceta da bruxa se encontra também inserida dentro do arquétipo de Grande Mãe, onde falaremos mais adiante. Ainda hoje em dia é um símbolo cheio de preconceitos, vindo desde a época medieval onde de fato aconteceu uma grande caça às bruxas, marcando o mundo patriarcal e que “devorou” uma grande parte da alma feminina. Com este movimento todo, este arquétipo foi renegado pelas máscaras de medo, preconceito e sociais da civilização e religião que foi atirada à sombra do inconsciente coletivo (sombra para psicologia analítica é tudo aquilo que renegamos não reconhecemos dentro de nós e no âmbito coletivo, mas que também pode ser um grande tesouro, potencialidade na nossa vida).


Esta figura também representa uma faceta do arquétipo da Grande Mãe, onde em uma das polaridades deste arquétipo a bruxa está representada por um viés de mãe diabólica, terrível destrutiva, contendo os mistérios de morte, menstruação, lua, animalidade e ocupando o lado mais sombrio deste, enquanto a figura da velha sábia e a deusa por um viés de fertilidade, mistérios de gravidez, vida, tudo que é belo e puro ocupando um lado mais numinoso. Com o Cristianismo, esta polaridade do arquétipo ficou renegada e reprimida da imagem da Grande Mãe se tornando unilateral, onde muito se perdeu na psique feminina, pois enquanto o aspecto mais numinoso era ocupado pela figura da Virgem Maria, por exemplo, como um padrão de feminino bom, modelo, domesticado, virginal, a bruxa ficou com a outra polaridade onde a sedução e a sexualidade também foram reprimidas.


Nos contos de fadas vemos que a bruxa possui um papel essencial para o desenvolvimento da psicológico e o processo de individuação na princesa: geralmente na história, o masculino representado pelo pai é sempre fraco e muitas vezes quase inexistente, pois muitas vezes o pai morreu, sendo um aspecto que só retorna após o enfrentamento da princesa com a bruxa facilitando que a figura do príncipe chegue. A mãe boa também está morta, dando lugar para a figura da bruxa/madrasta que se volta contra a princesa assim como a Grande Mãe natureza raivosa. Só que a grande sacada dos contos de fada é que sem esta figura da bruxa, não teríamos história, pois a princesa não sairia do lugar. A bruxa então é uma força motriz que move esta princesa rumo ao seu processo de individuação.


A mãe terrível é quem nos faz sair da zona de conforto e criar subsídios para enfrentar coisas no nosso dia-a-dia e inclusive integrar aspectos em nossa psique, pois sem esta, não entraríamos em contato com os opostos. Nos mitos, exemplos de deusas associadas às bruxas são: Lilith, Ísis, Circe, Hécate, Inanna, Feyja etc. O caldeirão, poções de cura, envenenamento, mistérios da sedução, do sexo, tecelagem, plantio, ritos de passagem e da sabedoria são características importantíssimas deste arquétipo do feminino. Também eram conhecidas como parteiras, curandeiras, sacerdotisas onde os mistérios eram passados de mãe para filha. 


E o que a mulher no século XXI tem a ver com isto? O que é importante saber?


Na psique da mulher, a bruxa nos proporciona aspectos numinosos da alma: é ao mesmo tempo sombria e iluminada, detentora dos mistérios, funcionando também como uma ponte entre o inconsciente e o consciente marcando ritos de passagem (tempo e fases na vida da mulher). A bruxa não foi nem combatida, foi assaltada, arrancada de seu lugar na Idade das Trevas, reprimida na era moderna, mas não perdeu em poder, pois como arquétipo, a força ainda existe, mas se tornou uma muito inconsciente. Quem perdeu foi a mulher em seu acesso a esta força tão importante por seu poder de se tornar unificada por meio desta. Por isto, se reconectar com este arquétipo é fazer um grande trabalho de resgate.


Resgatar um pedaço da sua alma que há muito tempo ficou adormecido não somente na sombra coletiva, mas na sua sombra também. Resgatar a nossa essência enquanto mulheres, reconhecendo que temos aspectos numinosos e sombrios em nossas vidas e psique, é fazer as pazes com isto tudo e conosco. É nos re-apropriar de nossos corpos, nossas vidas, valores, regras, independente de valores sociais, religiosos e papéis de gênero; é retomar a magia de dentro de nós mesmas, sendo capazes de transformar as coisas em nossas vidas e ao nosso redor, pois onde há bruxa, há magia, há transformação. Quando nos reconectamos com a nossa bruxa interior, esta nos devolve aspectos transcendentes, transformadores a um nível muito profundo concernente à divindade, somos capazes de resgatar nossa relação com nossos corpos, mente e espírito.


E se você ainda acredita que isto não tem a ver com você, repense: uma das maneiras que as mulheres vem buscando resgatar esta bruxa atualmente é através da reconexão com o corpo, os ciclos menstruais voltados aos ciclos lunares onde se realiza um ritual, recorrendo à uma reintegração deste arquétipo na psique feminina; é um movimento de olhar para si, sua sombra, reconhecê-la, iluminá-la e trazer este aspecto para a consciência como potencialidade e tesouro. Uma vez feito isso, é muito mais fácil da mulher se conectar com sua bruxa anciã e guia interna para seus desafios do dia a dia, liberando energia psíquica criativa, abraçando melhor seus conteúdos psíquicos de suas sombras, aceitando que há uma dualidade, indo cada vez mais em direção ao seu processo de individuação, ao seu Self (arquétipo regulador e  governante de nossa personalidade em constante expansão para que um dia possamos atingir a melhor versão de nós mesmos que seremos capazes de alcançar). Qual mulher nunca teve uma nuance de intuição, um sexto sentido? Isto é a nossa bruxa interior buscando vim para a luz de nossas psiques em busca de se tornar uma figura ativa, de ajuda e sabedoria.


Grupos de mulheres com este intuito cada dia mais vem surgindo empoderando, e exercendo o papel de retomada, assim como a busca das mulheres por psicoterapia também tem sido muito significativo, permitindo que a mulher faça estas transformações dentro do setting terapêutico entrando em contato e transcendendo o poder de natureza feminina coletiva, onde se abre espaço para experiências de participação mística com o arquétipo do divino feminino, abstendo a mulher de seu papel comum da sociedade e elevando-a a um relacionamento direto com a divindade, que a leva à totalidade, liberando e organizando a energia psíquica criativa provocado pelo empoderamento do Self para as relações cotidianas, tarefas do dia-a-dia, relacionamentos sejam amorosos ou não, sem perder essa elevação, a transcendência e seu significado em sua vida.


Diante de tudo isto, vamos tirar uma parte deste dia em busca de reconectar com este aspecto nosso? O que a sua bruxa interior está querendo te dizer? Te mostrar? Te guiar? Permita que ela chegue na sua vida, que ela te guie, te proteja. Vamos iniciar psiquicamente a nossa dança do feminino com a vida?

 



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